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"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


EU VOLTAREI, E SEREI LEGIÕES!...

Consta registrado na história antiga, durante os episódios envolvendo a rebelião de escravos do regime romano liderada por Spartacus, que ao final de tudo um judeu, - homem introspecto e de pouca eloqüência verbal, mas dos que lhe eram de maior confiança - ao ser crucificado na Via Ápia, na cena legendária em que esta conhecida avenida romana fora transformada em cemitério com milhares de crucificados pelo então cônsul Marco Crasso, vociferou, do alto do martírio extremo que lhe fora imposto, quanto a todos os rebelados contra o regime despótico do Império Romano:

- "Eu voltarei!!... E serei legiões!!..."

Dois mil anos depois, nada obstante a maquiagem dos avanços tecnológicos e de ordem material, de tempos em tempos agrupamentos humanos, ou a humanidade como um todo, encontra ocasião de identificar episódios brutais nos quais a barbárie animalizada dormente no imo do homem intempestivamente se materializa, de n formas lastimáveis, em crimes hediondos, assassinatos inconcebíveis, atos em cuja inerente bestialidade não se logra registro adequado de compreensão nos sentimentos das populações aterradas.

Milênios à frente, eis que, todavia, ainda se praticam crimes ignominiosos e seres sem conta, abalados nas profundezas mais recessas de sua sensibilidade, em contrapartida com novas vestes e com novos dizeres e em novos cenários, parecem proferir, de dentro do impulso mecânico de sua indignação, as palavras do escravo injustamente martirizado em outros idos já longínquos - confirmando a predição de então nos tempos atuais, quando muitos, e quiçá os mesmos que vergaram a veste corpórea de romanos e judeus naquelas épocas, revoltam-se e proclamam que não se extinguirá o fogo conclamador da justiça, na mesma proporção dos atos bárbaros que porventura vierem a assombrar os cenários humanos.

Esquecem-se os seguidores de Spartacus de ontem quanto de hoje que esta busca encarniçada da justiça e da reparação prescinde da vingança, quanto do revide de selvageria na mesma proporção em que torna seus representantes não em libertadores ou beneficiadores da espécie humana - mas em fratricidas e criminosos de idêntica monta, de vez que a verdade última, a qualquer tempo, é que a violência não se soluciona com violência proporcional, que antes nivela os seus praticantes no mesmo degrau precário de entendimento e de retardo frente às necessidades elevadas de progresso da vida nos panoramas terrestres, e não o inverso!

Alguns evocam a Lei Universal do Retorno, presta quanto certa, indiscutivelmente - mas jamais comparecendo como instrumento de vingança em ação pelos sábios mecanismos regentes da Vida, a fim de se atender ao desejo cruento de desforra deste ou daquele.

Antes, é a Lei do Retorno ferramenta educativa das populações indisciplinadas em orbes rudes quais o terreno, que por vezes, somente às duras penas, e após decorrido largo intervalo do calendário evolutivo, logra conduzi-las, matematicamente, à compreensão plena de que tudo, do mais insignificante pormenor aos fatos de maior repercussão na jornada, é atraído aos palcos cotidianos via aglutinação das energias individuais em regime de sintonia, em razão do que jamais anjos coabitam, nas mesmas dimensões domésticas, com seres ainda em estágio rude de imperfeição.

Há, portanto, que se provar, com precisão matemática, do fruto correspondente a cada uma das nossas atitudes. Mas isto demanda única e exclusivamente medida didática e retificadora das engrenagens universais no processo de burilamento espiritual, e não, e nunca, punição divina, castigo ou vingança de qualquer espécie respondendo às eventuais evocações verbais ou não verbais da revolta cega e das expressões da violência descontrolada ainda presentes no íntimo das criaturas terrenas, ou da inconformação com o curso penoso de um mundo ainda situado em etapas ríspidas da evolução espiritual de seus habitantes.

Assim que, em toda fase da história humana, verdadeiramente os mesmos indivíduos comparecem, como legiões redivivas, clamando por justiça, e confirmando a adágio antigo pronunciado por um escravo martirizado pelo despotismo bárbaro de uma época já vencida da história humana. Real, contudo, em caráter permanente e para além deste eco perpétuo nas torrentes ininterruptas das atribulações humanas, é que as legiões que bradam por justiça, harmonia e pacificação entre os homens lograrão tal conquista apenas pela via única dos próprios esforços, e na tomada de consciência lenta, mas certa, de que num mundo onde a vida comparece como o valor máximo a ser preservado e reverenciado sob todas as formas jamais se fará presente a volúpia ainda liberta e sem amarras da crueldade em corações sofredores que apenas dificultosamente aprendem que, à distância do amor ao próximo, não existe chance de salvação.

Caio Fábio Quinto
pela psicografia de Lucilla
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 29/04/2008
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