ISABELLA: FILHA DE TODOS NÓS
Fiquei olhando ontem, estatelada, aquela entrevista com os suspeitos do crime e imaginando, em parte dominada de inusitada compaixão: se são mesmo culpados, que tipo de educação, que tipo de mentalidade e de valores incutidos desde a infância desaguou neste perfil humano desastroso, que pratica crimes desta monta e crê que de fato se pode sair ileso deles?! A menina Isabella comove qualquer um de nós, assim como nos comoveu João Hélio, assim como nos comove toda criança assim martirizada, seja de que classe social for, de qual país, raça ou latitude. Ainda estes dias comentei em artigos anteriores que, há alguns meses, estive em choque com caso semelhante, mas distanciado das principais páginas jornalísticas por ter ocorrido no seio de família humilde, em Queimados, Rio de Janeiro, no ano passado: a sobrinha neta da minha empregada foi também assim, brutalmente assassinada por mãos incógnitas e abandonada, dias depois, num terreno próximo à sua residência. Seis anos. Uma única e pequena foto sua foi divulgada num jornal de pequena expressão. E tudo que aconteceu foi o investigador ter sido assassinado tempos depois, e o caso ficou por isso mesmo. Não me lembro agora do nome da menininha. Mas, qual a diferença de Isabella?! Lembro do rostinho na foto, graciosa, pretinha de tererês coloridos no cabelinho arrumado, sorriso confiante e feliz como o de toda criança nas fotografias familiares... Isabella, João Hélio, esta menininha, tantas mais, são filhos de todos nós. Vemos em seus rostinhos o mesmo sorriso vislumbrado nos dos nossos filhos consangüíneos. Eis a razão de tanta comoção. Eis a razão também pela qual a evolução neste planeta tem que desencadear uma transmutação de valores no sentido de que a humanidade abra seus corações para além dos rótulos consangüíneos. Há que se ver no filho alheio o nosso próprio. Há que se banir para sempre dos cenários do mundo a torpeza e a crueldade existente nestes casos passionais em que uma criança inocente, indefesa, toma sobre si a cruz das limitações conceituais dos adultos vitimizados por sentimentos nefastos atrelados à possessividade, ao ciúme monstruoso, àquela idéia escura de que não há em nossos corações espaço para se acolher os pequenos que, filhos dos relacionamentos afetivos anteriores dos nossos companheiros e companheiras, acorrem aos nossos lares na certeza de se poder contar com grandeza dalma, com compreensão, com amplitude de espírito que os receba com amor eqüânime e despojado de preconceitos, e da pequenez afetiva que origina tanto, nos nossos tempos, acontecimentos lastimáveis como estes que vimos testemunhando. Para além da vida corpórea, haveremos todos de nos encontrar. E lá não pesarão mais o que foi quem para mim ou para o outro, no capítulo transitório da consangüinidade terrena. Contará o que representamos para os de nossa convivência em termos de qualidade de convivência. Em termos de amor, de fraternidade, de generosidade e de mansuetude. É desta forma, jamais de outra, que conquistaremos ventura perene, e afetos inestimáveis na Terra e na continuidade da vida. É somente por este caminho, o do entendimento de se fazer parte de uma família humana e universal a quem devemos o respeito supremo pela vida única presente em cada coração, que um dia alcançaremos varrer para sempre da face do orbe essas sombras de morte, horrendas, que ainda flagelam impiedosamente as nossas almas em difícil processo de ascensão. Amor a todos. Que a doce Isabella se ache em paz, sob os cuidados amorosos da Espiritualidade amiga. Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 21/04/2008
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