MAIS LOUCA É QUEM ME DIZ!...

(...)Mais louco é quem me diz/ e não é feliz/ não é feliz!(...)
Arnaldo Batista

E lá ia eu toda feliz no shopping na companhia da minha família em meio às compras de Natal, quando, parando num stand de bijouterias, ouço a pérola de uma compradora emparelhada ao meu lado de quem até então, em meio ao alvoroço em torno, nem tinha me dado conta:

- "Eu, não, não quero comprar isso...ficar igual a uma perua loura louca!"...

Ao meu lado! - que tenho, por minha vez, meus cabelos praticamente blonde! Ou foi afronta de fato, ou já desencarnei e não sei...estando transparente desde o início do dia!...

Existe um preconceito esquisito contra o tom louro nos cabelos femininos, idêntico ao preconceito racial clássico. Já rezava Gabriel O Pensador com o seu hit legendário "Loura Burra"...sem querer incorrer aqui em qualquer crítica, já que particularmente adoro o Gabriel. Ele deve ter lá os seus motivos para ostentar seu ponto de vista todo particular sobre as louras. Mas isso que aconteceu hoje, caríssimos - já considero exagero!

Dentro do carro, de volta para casa ao lado do meu marido e com meus filhos sentados atrás de mim, boladíssima, cheguei a perguntar:
- Mauro, você me acha perua?!
Ao que, sabendo do que tinha acontecido, mas por outro lado no estado de espírito adequado para o caso, bem cumpriu a sua solidariedade de marido:
- Claro que não! Vai dar importância às besteiras que os outros falam?!

Segui viagem tecendo alguns comentários sobre as paranóias das pessoas. Se fosse do tipo que não aguenta provocação de gente louca - e aí sim, louca! - sem se rebaixar, eu teria rebatido:
- Ô, qual é o teu problema?! Se o tom dos cabelos das pessoas te incomoda tanto ao ponto de não te deixar se meter com a tua própria vida, então a perua louca é justo tu, ó mulher medíocre!...

Mas a resposta iria acachapar demais a pobre criatura, e além do mais provocar no shopping uma situação que se acha entre as que eu mais detesto, qual a de chamar atenção para mim mesma e ser estopim de tumulto...Além do que, tal coisa, a meu ver, faz parte do mais relevante repertório de baixarias das que já tomei conhecimento. E foi por isso - e por tal reação não constituir mesmo o meu perfil particular - que me limitei a fazer ouvidos de mercador e seguir o meu caminho feliz ao lado da minha família.

Todavia, penso que coisas assim valem uma crônica - porque certamente não fui a única vitimada por tal mostra de demência da parte de estranhos.

Por que cargas d'água os outros têm que se doer do estilo dos outros tecendo pré-julgamentos preconceituosos e desfechando rótulos típicos de clichê?! Pinto meus cabelos de louro por nenhuma razão especial que não as prováveis de centenas de outras mulheres ao redor do mundo: a tonalidade leitosa da pele, com a qual caem bem os cabelos claros; o fato de cobrir melhor os cabelos brancos do que acontece com tons escuros; estilo próprio; escolha de época... tanto que já pintei antes de inúmeros tons, do castanho claro aos vários possíveis de louro cinza. Enfim, pelas mesmas razões pueris pelas quais pintaria de outra cor se fosse negra, em tons que então combinariam melhor com a minha pele; se fosse ruiva; ou talvez se não pintasse de cor nenhuma...afinal, há quem adore os tons grisalhos. Tais preferências simplesmente caem bem com o todo de inúmeras pessoas...

Então, para finalizar, diria que pinto os cabelos de louro porque pinto e pronto! Alguém tem algo contra?! Dane-se! A quem prejudico com minhas preferências pessoais?! Assim como a quem prejudicará quem opta por usar calças jeans ou black tie, ou azul ou amarelo, ou piercing, ou vermelho ou verde nos cabelos, ou quem gosta de hip hop, de clássico ou de mpb?!!...

Que tem os outros a ver com as opções alheias ao ponto de expressar contra elas tão agressivamente as suas neuroses pessoais?!! E em pleno shopping?!!

- "Eu não, não uso isso, ficar igual a uma perua loura louca"?!!...

É muita coisa mal resolvida numa mulher só!... Aliás, como diria meu pai: - não é uma mulher com muita coisa mal resolvida, é uma "muita coisa mal resolvida mulher!"... 

Como já lá rezava o preclaro Arnaldo Baptista:

"(...)mais louca (e perua) é quem me diz / e não é feliz...
Eu sou feliz!(...)"