DIREITOS DESUMANOS Não sou formada em Direito, mas, apesar disso, trabalho num Tribunal e aprecio assistir a determinadas sessões de julgamentos. Aprendo bastante com elas, e a partir delas extraio reflexões oportunas sobre os acontecimentos do dia-a-dia que nos atingem de mais ou menos perto. Semana passada assisti a uma onde os juízes debatiam as evidências de um crime de suborno fiscal a partir do que se denomina provas indiciais - a partir de indícios. E um deles, ao final do debate, foi taxativo ao confirmar a condenação a partir daqueles indícios. Fiquei imaginando, na minha santa ignorância do que constituiam aquelas peças processuais, que bem taxativos indícios deveriam existir naqueles autos para que o juíz daquela forma se pronunciasse, sobre uma questão assim, grave, e comprometedora dos destinos de alguns seres humanos de maneira lúgubre e definitiva. Ora; de meu lado fiquei imaginando - a partir disso, e de uma famigerada experiência de ordem familiar acontecida nos últimos quatro meses: se as autoridades penais se orientassem por esta linha de raciocínios sempre, bem possivelmente muito marginalzinho ordinário já se acharia, sem apelação, atrás das grades, após cometerem seus ilícitos de maior ou de menor gravidade. Do alto ao baixo escalão brasileiro! Alguém certamente argumentaria que se todo mundo fosse preso a partir de indícios somente, muito inocente pagaria pelo pecador, principalmente em se considerando as maracutaias seculares existentes no nosso país a cada novo escândalo semanal! Mas menciono isto apenas na intenção de destacar a avalanche de injustiças e de casos de impunidade que diariamente enfestam o cotidiano dos brasileiros, justamente pelo excesso de paternalismo com que se lida não com casos dúbios e cheios de dúvidas e de atenuantes, em si, - mas com aqueles contundentes, flagrantes, nos quais se deixa de aplicar o devido rigor da lei, enclausurando-se de imediato bandidos confessos, devido a "progressões", a "ausências de flagrante", a "inexistências de maioridades penais", e vai por aí afora! Só para ilustrar, o caso familiar a que me refiro diz respeito à mudança de meu pai, de Aracaju para o Rio de Janeiro: mais da metade das caixas foram roubadas por uma falsa transportadora, que possuí inclusive seu nome nas páginas telefônicas do estado de Sergipe (DiskMudanças! - Cautela aos amigos sergipanos!). A quadrilha, ao que tudo indica formada pelo dono, funcionários e não sei quantos mais coniventes, nada menos que deu fim a todos os eletrodomésticos - vendidos, certamente! - após a assinatura de um contrato de quatro dias para a entrega no Rio de Janeiro!
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 02/09/2007
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