IMPERMANÊNCIA... Retorno de viagem de Aracaju, e eu aqui no meu café, só recordando... Dia desses, lá estávamos na maravilhosa Praia do Refúgio. Em dado momento, sozinha na beira-mar, pés no ir e vir morno das ondas carinhosas, massageando-os com o seu movimento marulhoso, sobe-me à mente apaziguada das inquietações cotidianas a cena já presenciada inúmeras vezes: crianças alegres, alvoroçadas, brincam incansavelmente, em situação semelhante a que eu me achava naquele instante abençoado. As ondas indo e vindo, e elas correm de um lado para outro, aos gritos, espalhando com os pezinhos inquietos rajadas de água e areia para todo lado. Em dado momento, sobe uma onda mais forte, derruba na areia uma delas. E, passada a confusão, a criança levanta-se, rápida; às vezes um pouco tonta, n'outras, já rindo da aventura; engasga-se ligeiramente. Recupera o equilíbrio. Aquela onda veio com força, foi mais forte! Mas, arrastada pela atração da brincadeira imperdível do momento mágico, logo se reintegra na alegria lúdica do repertório da vida infantil! Os coleguinhas acercam-se, chamam, atraem, empurram-na para a continuação do jogo divertido. E, menos de um minuto depois, lá está ela, novamente feliz, esquecida daquela derrubada imprevista. As ondas do mar, caprichosas, não esperam, e também participam da brincadeira. São imprevisíveis! Pegam de surpresa, às vezes arrastam, às vezes derrubam! Mas, na beira-mar mais segura, não há o que temer. E se vem outras tantas ondas rasas, lindas e límpidas, alegres como são aquelas crianças, para quê se deter no humor de uma única mais enfezada que lhes pregou aquele susto? Há que se divertir com todas as outras inéditas, que se espalham sem parar sobre os pezinhos felizes... E a brincadeira continua! Na beira-mar encantadora dos mares verdes do nordeste, lá estava eu, como essas crianças, apreciando a tepidez das marolas cheias de estrelas do mar investindo sobre meus pés, tratando-os como não o consegue nenhum dos melhores terapeutas humanos; e observava o jogo de frescobol dos meus filhos, enquanto subiam-me com espontaneidade estas reflexões, conexas com tudo mais. A vaga que derrubou o Brasil nesta chamada Copa das Copas foi das boas! Essa foi bem dolorida; mas, oras, trata-se de um jogo! Que envolve patrocínio, profissionalismo, milhões em dinheiro - mas, ainda e sempre, é, e sempre será como uma daquelas ondas, como aquele jogo de criança, apenas que mais barulhenta! Com milhões de participantes envolvidos! Quando a vaga é das bravas... Quando acontece mais para dentro do mar, fora da margem segura das marolas mornas, área de segurança das crianças, torna-se um jogo adulto. Envolve mais risco, mais comprometimento de todos os participantes. Mas, seja qual tenha sido a causa da derrubada, ainda e sempre será um jogo! A vaga, naquele jogo contra a Alemanha, veio forte, derrubou! Todos engoliram um bocado de areia e água salgada, sensação horrível! Irritou, atordoou, ninguém esperava! Mas, o que é isso diante da imensa brincadeira que são nossas vidas no Universo, diante do contexto de nossa eternidade?! Outras vagas estão vindo, meus amigos, e não somente no futebol! Estejamos na área tépida das marolas carinhosas, terapêuticas para os nossos espíritos, como eu estava naquela tarde, no silêncio acariciador da orla morna, com céus azuis de brigadeiro se espraiando para todos os lados dos horizontes, somente com o rumor manso das brisas refrescando o meu rosto... Estejamos na área das vagas mais impetuosas, para aventureiros mais seguros e mais ousados, a verdade final é que cada vaga, cada onda rasa, é inédita, caprichosa! Tem seu próprio humor, cor - e com elas interagimos ao nosso gosto, e disso depende, eternidade afora, todo o enredo dos nossos percursos! Como reagiremos às vagas próximas, que investem sem parar, sem querer interromper o jogo da vida; testando-nos, empurrando-nos, compelindo-nos ao próximo lance? Diante das ondas mais enfezadas, cairemos nas areias de nossas praias individuais, e ali ficaremos, chocados, perplexos diante do totalmente inesperado ou diante do melhor, ou do que não nos convinha aos planos - ou, como aquela criança feliz, exemplarmente corajosa, levantaremos depois do impacto, do breve momento de embaraço? E priorizaremos o prazer da continuidade, dos movimentos, das oportunidades felizes com que podemos criar momentos de alegria inimaginável, se nos dispusermos a interagir com os nossos parceiros de jogo e com as vagas incansáveis que, sempre de forma imprevista, inédita, nos presenteiam o destino, moldando-nos os espíritos para uma condição evolutiva melhor? Ascender à plenitude da felicidade é nosso destino. E, queiramos ou não, o universo nos ensina que isto só acontece, exclusivamente, obedecendo aos imperativos da Lei da Impermanência! Aprendamos esta lição com as dádivas da natureza, que nos são presenteadas por Deus nesta grande e bela morada celeste! Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 10/07/2014
Alterado em 10/07/2014 Copyright © 2014. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |