Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos



ECCE FRANCISCO!


E eis que durante uma semana no Rio de Janeiro uma maravilhosa inversão aconteceu!

Durante sete dias, o que predominou no noticiário foram informações a respeito de uma estupenda aglomeração de tres milhões de pessoas ocupando toda a extensão da praia de Copacabana, dos limites da Avenida Nossa Senhora às malhas das ondas caprichosas, encharcando com espumas brancas as areias!

Mas não falavam, as notícias, de assaltos, de violência, de desassossego ou insegurança, de badernas entre bêbados, e nem mesmo a respeito da agitação histórica das últimas manifestações sociais e políticas que sacudiram o país, de norte a sul nos últimos dois meses!

Não! Para delicioso deleite e refrigério espiritual, desta vez, o que prevaleceu nos jornais televisivos e nas mídias da internet delineava surpreendente desafogo da habitual sobrecarga estressante de notícias de baixo padrão psíquico e emotivo, às quais as populações das grandes cidades do nosso país já se vêem tão habituadas!

Em jornais, revistas, entrevistas, nos ambientes profissionais ou nas praias ou pracinhas de rua, o assunto do dia falava, antes, de uma descomunal invasão de Luz humana na zona sul do Rio de Janeiro, de sua própria natureza histórica tão turbulenta, e sempre palco simultâneo, tanto de maravilhas, quanto das mais deploráveis das nossas realidades cariocas!

Com a visita do Papa Francisco, e com a transferência necessária da missa de envio de Guaratiba para a mesma praia de Copacabana, esta invasão avassaladora de jovens peregrinos e de turistas provenientes de todas as partes do mundo e regiões do Brasil objetivava repetidos encontros, mas por uma causa de paz!

E, quem melhor do que o Papa Francisco - esta mais do que bem vinda surpresa egressa do Vaticano, em sua primeira viagem internacional desde a sua eleição - cumpriria o sublime papel de agregador de jovens e de peregrinos imbuídos na grande jornada da Fraternidade da Igreja Católica?! O novo sacerdote chefe do catolicismo que - ouso dizer! - dentre todos os seus antecessores, seja, talvez, o mais fidedigno representante daquela Mensagem genuína de Amor que nos foi presenteada pela Presença do Cristo no mundo, e também pela vida de São Francisco de Assis, o santo de quem adotou o nome
para o seu ministério como chefe supremo da Igreja de Pedro, e do Vaticano, e cujo modelo cristão de conduta fora a melhor ilustração das virtudes da simplicidade e da humildade?

Para maravilhoso encantamento de todos, cristãos, católicos, seguidores ou não de filosofias ou de credos, enquanto esteve entre nós Francisco, o Papa argentino, deu a mais honesta e sincera demonstração desta religiosidade autêntica - aliás, da única válida e verdadeira, em cada um de nós! A religiosidade que brota a partir do próprio coração!

A religiosidade que unifica, que agrega, que não discrimina a partir das meras diferenças de opinião!

A religiosidade que não segrega e que não humilha, por preconceitos de cor, de credo ou de raça! A quem interessa, antes, beneficiar e saciar o próximo na sua sede de pão, do corpo e do espírito, antes de se deter nas muitas, incontáveis diferenças de percepção da vida que, em última instância, menos interessam na hora decisiva de se fazer valer as atitudes em favor da qualidade da coexistência em nosso mundo!

A religiosidade que esclarece à humanidade que, em verdade, os valores que prestigiam a criança e a velhice - os dois baluartes da história humana, em sua vivência sábia do passado, e nos portais para o nosso futuro - não podem ser menosprezados, em prol dos requisitos predadores e cruéis da economia e do consumo, que relegam seres humanos a meros produtos descartáveis, sob a ditadura fria da cultura do provisório e dos fatores questionáveis de eficiência!

A religiosidade que brota da fonte viva do exemplo, e não da proficiência do palavrório bem ensaiado para angariar meros fiéis devotos da palavra falada, porém à míngua da atitude que vivifica!

Ecce Francisco!

Eis Francisco, com seus gestos simples, de maleta com pertences pessoais em punho, descendo, sorridente, do avião comercial como um turista em férias, saudando a todos!

Eis Francisco - o senhor encanecido e gentil, saindo a toda hora do tapete vermelho estendido em sua honra, como se o ignorasse, para saudar circunstantes em absoluto fora do script bem traçado de autoridades e de privilegiados com a chance formal de oferecer-lhe cumprimentos e recolher-lhe as bençãos!

Eis Francisco! Beijando bebês às dezenas nos vários trajetos realizados no Papa móvel sem vidros nas laterais, crianças estendidas pelos braços ansiosos de mães felizes e emocionadas, católicas, ou não - brancas, negras, morenas, brasileiras ou estrangeiras - sem distinguir identidades, pré-requisitos ou situação social!

Eis Francisco, no Papa móvel, acolhedor aos milhares de abraços e de presentes que lhe oferecem incansavelmente, no longo trajeto da praia de Copacabana, até que alcance o palco gigantesco do cenário no qual, como se contrariando a sua maior vontade, estaria em seu trono, mas muito distante do povo para quem sorria, e a quem acarinhava o tempo todo, com gestos, afagos e sorrisos, como avô amoroso!

Eis Francisco! Tomando chimarrão, para pânico da rígida segurança internacional que o assessorava!

Eis Francisco, indo daqui para ali, debaixo de chuva nas noites geladas do inusual inverno carioca de 2013! Beijando idosas, acalentando cadeirantes, oferecendo esperança... agindo como pai, como irmão!...

Sem temer contato público! Buscando-o, mais que tudo! Desfrutando-o com iluminação, com alegria e felicidade incontestáveis, eis Francisco! E, ao final de uma semana de um quase inacreditável sonho bom; de dias de paz plena, há muito não vista, quase utópica... deixa-nos, surpresos de nossas próprias lágrimas pela sua partida! Pelo retorno ao poderoso Vaticano de um homem em cuja hierarquia religiosa secular, provavelmente, jamais suspeitaríamos o grandioso jorro de Luz que se espraiou em nosso país, a partir de sua presenç,a durante esta inesquecível Jornada Mundial da Juventude!

Ecce Francisco!... O humilde, o grande e definitivo marco de simplicidade do Catolicismo dos nossos tempos! Exortando o melhor da juventude ao melhor de si! Rejeitando discriminações a gays! Deplorando, com destemor, os escândalos de estado em seus próprios domínios políticos, e bradando por modéstia e espírito de serviço entre os seus pares! Conclamando padres, bispos e sacerdotes a buscar e acolher o povo, aos mais simples, em suas necessidades ríspidas nos tempos que correm, como o fazem as mães - concitando-os a ir ao seu encontro!

E eis-nos, todos, renovados, revitalizados espiritualmente - em quaisquer que sejam as nossas mais variadas expressões de Fé!

A verdadeira religião reside nos nossos corações! E assim, a Paz, o Amor, a Fraternidade, se sustentarão sempre possíveis!

Sempre!...

Eternamente gratos, Papa Francisco!

 




 
 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 29/07/2013
Alterado em 30/07/2013
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