STACATTO ESPIRITUAL
O staccato ou «destacado» - designa um tipo de fraseio ou de articulação no qual as notas e os motivos das frases musicais devem ser executadas com suspensões entre elas, ficando as notas com curta duração. - Wikipédia. Hoje, houve um momento de surpreendente diálogo espiritual com Iohan, meu mentor do invisível, durante um momento de solidão pela manhã, certamente porque ele me percebia dominada por intenso barulho mental apesar do reconfortante silêncio dos arredores na minha moradia. Ouvi distintamente, com a "audição interna", o querido amigo das dimensões espirituais me convocar a entendimento: - Pare tudo. Preste atenção em mim! Incerta sobre a consistência do que acontecia, e relutando em me arrancar de preocupações sobre um assunto que reiteradamente vem me obsedando as idéias há semanas, todavia, em lhe sentindo nitidamente a presença extremamente agradável, não relutei mais e parei com tudo. Com a movimentação pela casa de um lado para outro, providenciando de forma um tanto desencontrada e fora de foco as ocupações rotineiras: o preparo do café, a arrumação do quarto... Sentei-me, e o "visualizei" distintamente com a visão espiritual, diante de mim, agachado: os traços tranquilos de seu rosto e o magnetismo afável dos olhos de bela tonalidade castanha. Iohan vestia roupas brancas, e como sempre, se mostrava jovial, carinhoso, bem-humorado, embora o notasse um tanto sério quando começou: - Você tem que começar a fazer o jogo de parar, de vez em quando! Tudo! Os pensamentos; a mente, que anda desenfreada! Pare, my dear! - Enfatizou, afetuoso - Você está precisando sentar nalgum lugar e olhar para alguma paisagem ensolarada, para o mar, colinas, montanhas!... Eu me achava naquele começo do dia de humor um tanto acre. Havia chorado há pouco, me ressentindo mais uma vez da ausência do meu filho mais velho dando continuidade aos estudos em outro estado do país, de entremeio a outros pensamentos inquietos que de fato não me davam sossego de modo bastante inconveniente para um início de quinta-feira. Assim, um tanto irreverente, senti uma vontade idiota de rir do que ouvia, e mentalizei para ele uma resposta impertinente: - Paisagens, Iohan?! Em plena cidade, com prédios para todo lado?! Onde?! -Sempre há um jeito! Veja-as, nem que seja na internet! - Ele ironizou de volta, surpreendendo-me e não exatamente me admirando com mais uma demonstração de sua eterna e irreverente bonomia, presente de tempos em tempos. Eu chegava a vê-lo rindo, zombeteiro como um adolescente, para logo depois tornar a se compenetrar e prosseguir no que dizia - Olhe para o céu azul, dear! - Sugeriu, ao que sempre noto ainda fortemente influenciado pelo idioma que tantas vezes articulou em suas reencarnações passadas, quando fora um músico clássico em países do Reino Unido - Há árvores, verde, flores, bem perto! Não importa exatamente o que lhe servirá para que desfoque temporariamente desta agitação mental que não lhe dá sossego! E como agora eu esmorecesse um pouco e me mantivesse quieta, apenas prestando atenção ao que me transmitia, vi que se sentava ao meu lado para falar um pouco mais - um ensinamento espiritual precioso, com base no aprendizado magnífico que a sua trajetória já bastante extensa como um músico clássico exímio vem lhe proporcionando, e imagino que de feição ainda mais sublime em se tratando de todas as perspectivas luminosas que o Mundo Maior oferece ao espírito em marcha franca de ascensão evolutiva: - Você já imaginou o que seria uma sinfonia sem o stacatto? Imagine um concerto, uma sinfonia, com notas contínuas, sem intervalos, sem fraseado musical, my dear! Os circunstantes apreciariam ou suportariam algo assim? Trataria-se-ia de espetáculo extremamente desagradável! Exauriria os músicos, o regente e a platéia; o que se ouviria seria algo dissonante, sem sentido melódico nenhum! Pois isto é um paralelo exato como o fluxo de nossas vidas! As pausas entre as notas é necessária; só existe sentido melódico na harmonia bem produzida entre silêncio e som! Do mesmo modo acontece com o ritmo de nossas existências! Entre o afluxo de atividades, movimentos, ruídos e vozes mais ou menos intensos durante a passagem das horas, nalgum momento precisamos do stacatto, das pausas! - E neste ponto, senti-o segurando-me pela mão como um irmão amoroso - Para respirar, e realizar a higienização mental que nos impeça de nos deixar levar de roldão para todo lado, arrastados por um sem número de preocupações e pensamentos que, se bem avaliar, para absolutamente nada nos servem! Enfeiam, distorcem o sentido da melodia das nossas vidas! Devemos nos presentear com estas pausas, necessárias para que enxerguemos os nossos desafios e compromissos de modo mais claro, mais simplificado e belo! Assim, dear, pode constatar que as soluções e respostas emergem do íntimo com maior acerto e facilidade!... Àquela altura do discurso, eu já me sentia outra; havia, em poucos segundos, me "esvaziado" de toda a sarabanda desassossegada de momentos antes, e experimentava a hipnose da energia luminosa e cheia de carinho com que ele me instruía, em entonação de voz aveludada, harmoniosa: - Preste atenção: prometa! De agora em diante, me atenderá quando me ouvir dizer: pare! Precisa exercitar isto durante algum tempo e eu a ajudarei! Está bem?...
Prometi. E por todo o tempo, bem o notei, pelo menos umas tres vezes o "escutei" me alertando para o stacatto espiritual: pare! E lhe atendi! E o resto do meu dia correu às mil maravilhas!... Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 15/03/2013
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