Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos





IDÉIA GENIAL


Muitos e muitos anos atrás, quando eu não passava de uma garotinha encolhida e meio desengonçada de uns oito ou nove anos, certa vez meu pai me convocou para, inesperadamente, pedir minha opinião.

Tratava-se de um nome para um projeto conjunto que desenvolvia com certo conhecido, para a criação de um novo grupo de ensino. Pensou ele, quem sabe, em chamando a própria filha também estudante e até certo ponto criativa com as suas redações escolares, em poder contar com um palpite que lhes funcionasse como sorte grande, inspirada nas idéias juvenis por vezes mais desanuviadas de máculas, das névoas das preocupações e agitações do mundo adulto que contribuem para empanar a desenvoltura nos empreendimentos, justo quando mais se necessita dela.

- Filha, papai está trabalhando num novo projeto com um amigo. Trata-se de um curso, para estudantes como você e os seus coleguinhas de escola. Não tivemos ainda nenhuma idéia boa para o nome. Você não poderia dar um palpite para nos ajudar?

Lembro-me vagamente de ter me debruçado na mesa durante uns poucos segundos, pensativa, e levando o assunto com a seriedade que logo percebi que meu pai emprestava ao caso, àquelas horas da noite em que, provavelmente, pretendia contar com alguma luz vinda do alto para dar tudo por encerrado e enfim descansar, após o dia exaustivo de trabalho.

A espera não demorou mais que estes poucos segundos em que me observava, em expectativa. Até que, ao que me lembro esboçando um sorrisinho um tanto endiabrado, soltei o mote, diante da sua cara abobada num primeiro momento:

- Grude! Grude, pai! - E, completando a idéia genial, que soltei de abrupto, sem mais nem menos, sem mesmo pensar, e já desandando a rir - Grupo de Ensino! GRUDE! O Colégio onde os alunos entram e não saem mais!...

Entreolhamo-nos.

Esboçando um meio sorriso, na certa porque, àquela hora de um dia de semana, não esperaria topar com idéia de fato tão criativa, embora também tão boba, recordo-me que papai parou por um momento, sem ação.

Depois, decidido de maneira teatralizada, sacou da caneta, entusiasmado - e passou o nome para o papel onde trabalhava, em letras desenhadas, caprichosas, repetindo, debaixo das minhas gargalhadas:

- G R U D E! Grupo de Ensino! O Colégio onde o aluno entra, repete os anos sem parar, e nunca mais sai! - E acrescentou, cheio de si, como se de fato tivesse encontrado o ouro da mina para o caso - Grande, filha! Obrigado pela sua ajuda!

Dobrou o papel, encerrou o assunto. Fomos todos jantar.

Não sei o que aconteceu nos dias posteriores. Certo é que, até hoje, rio-me com vontade ao me lembrar da história, volta e meia ao longo dos anos. Ele, imagino, talvez que nem mais se recorde!

Mas o que aconteceu mesmo, pude perceber com o passar do tempo, é que o tal curso nunca "grudou".  As longas décadas se passaram! E, na sua rasteira, ficou tudo pra lá!

E assim acaba-se a anedota da minha idéia genial.
 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 16/01/2013
Alterado em 17/01/2013
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