Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos




SOBRE OS NOSSOS INDÍGENAS


Semanas atrás uma conversa sobre a questão indígena no Brasil me suscitou reflexões sobre o assunto, ao observar o grande disparate de percepções entre várias pessoas, para o mesmo tema.

Ao modo do que acontece, ou aconteceu em quaisquer países, temos a cultura indígena como algo único, peculiar, exclusivo, a ser assim respeitado e considerado. Tentar enquadrar a pulso o universo indígena - a meu ver - aos parâmetros brancos, sob o pretexto pouco confiável de se angariar territórios para a expansão da civilização branca, é a repetição dos mesmos erros desastrosos já cometidos na época das grandes colonizações ao redor do mundo, e na história dos Estados Unidos, divulgada em verso e prosa em tudo quanto é filme mediano de FarWest já exibido ao longo das décadas.

Fala-se em adaptar o índio aos moldes de vida dos brancos. Não consigo realizar isto de um ponto de vista lógico, sem passar antes pelo crivo do livre arbítrio do próprio índio! Se, pois, um indivíduo condicionado culturalmente a parâmetros separados da nossa realidade por uma distância quase tão abismal quanto a existente entre dois planetas, aceita a mudança, então que se considere o caso isoladamente. Há, efetivamente, casos de índios que, incorporados aos nossos costumes, aprenderam o idioma. Cursaram universidades e se fizeram ativos dentro desta fusão entre universos distintos. Ainda assim, todavia, questiono acerca do componente poderoso da indução do branco sobre o psiquismo do indígena, neste jogo melífluo de poder. E sobre o alcance da respeitabilidade deste mesmo indígena, na hora de se oferecer chances de fato igualitárias de sobrevivência e competitividade a este indivíduo, enxertado com valores e princípios culturais estranhos ao seu psiquismo, e que não constituem os seus, genuínos, em contraponto ao branco, naturalmente adaptado a outra orientação em sociedade.

Valores, aliás, se torna palavra-chave nesta polêmica. Alguém, no debate em questão, alegou que índio é elemento improdutivo dentro do mundo atual. Que não acrescenta, nem contribuí para absolutamente nada, em decorrência do que caberia, hipoteticamente, aos brancos, o direito de intervir em posses de territórios indígenas em favor desta expansão insaciável dos brancos, para quem já não chega a vastidão de espaço de que já dispõe -  apenas mal administrada, diga-se!

Posso estar aqui proferindo a maior impropriedade! Mas, tendo em vista o tamanho continental de um país como o Brasil, com territórios imensos em estado de desocupação até hoje, coisa facilmente observável em qualquer viagem aérea, causa espécie essa insistência na luta infinda contra a alegação dos índios que protestam sua propriedade sobre os seus próprios territórios!

Valores! Consideremos: numa negociata, portanto, com os índios, a fim de desalojá-los de suas raízes territoriais para não sei aonde, o que se teria a oferecer, numa articulação justa de interesses? Outras terras? Mas o índio secularmente promoveu sua subsistência dentro de um habitat que, intuitiva e culturalmente, conhece melhor do que qualquer um de nós! Dele, extraí seu sustento: alimento, água, e mesmo remédios na flora rica de nossa nação! Produz desde arte, a métodos próprios de se manter dentro do mundo onde vivem, e com sustentabilidade ambiental! Erro crasso, portanto, alegação de que nada produzem, tomando como referência equivocada, como sempre, os interesses desta nossa estiolada sociedade branca!

No seu histórico cultural, portanto, produzem, e muito! O que, deste modo, seria compensação suficiente para o aborto brutal de toda uma pequena nação à parte, com promessas duvidosas de recomeço em ambientes desconhecidos? Aulas de idiomas? Roupas à moda branca? Religião? Remédios, química branca para doenças que foram introduzidas em seu meio por força da invasão do branco nos seus territórios? Comida processada, não natural? Aulas em universidades, músicas de nossas tradições culturais já insuportavelmente enxertadas com compenentes estrangeiros, na política extensa do imperialismo econômico?!

Pior: dinheiro?

Dinheiro! Lição boa a este respeito nos ofereceu um filme como Avatar, a despeito de ter sido criticado como não merecedor de Oscar pelos intelectualóides de plantão que só entendem a linguagem cinematográfica de dentro daquela repisada ótica de se questionar a nossa conhecida realidade, recheada de problemas intrincados e de difícil solução! Ora; mas Avatar fez com maestria esta mesma avaliação, de dentro de um espetáculo de beleza única, cheio de cenários maravilhosos, com mensagens subliminares que qualquer sensibilidade mediana compreenderia bem!

Avatar nos apresentou esta mesma compulsão humana de poderio e de invasão sendo tragicamente transferida para outros planetas, quando tudo aqui estaria completamente extinto! Toda flora, toda fauna, todos os recursos minerais!

Só que, neste ponto, a história indígena das nossas nações se repete: o branco invade com tecnologia maciça e interesses econômicos escusos, pretendendo alastrar sua civilização destrutiva para outros territórios do Cosmos porque se encarregou de destruir seu próprio mundo, já inviável à sua sobrevivência! Mas, em lá chegando, descobre que o novo mundo já tem donos - os "indígenas" de Pandora. Os Navi! Que, autosuficientes, eram providos de tudo o que necessitavam para viver harmoniosamente em seu mundo: alimentos, remédios, flora majestosa! Vida! E, embora afáveis, e de início acessíveis a aprenderem algo de novo com o idioma e os hábitos de seus visitantes, tornam-se absolutamente hostis ao depararem a violência e os métodos brutais destes visitantes que, paulatinamente, vão revelando a que tinham ido a Pandora: rapinagem! O domínio, ainda que pela força e matança! Tudo por interesse num único veio de mínério energético que lhes serviria de salvação à economia moribunda de uma humanidade quase destruída em seu mundo de origem!

A história não nos lembra alguma coisa?! Não se repete?

O grande impasse desta questão, meus amigos, é que os valores presentes numa civilização portadora de idiossincracias únicas - seja ela branca ou indígena! - não constituí exata e obrigatoriamente moeda de troca! Não mais estamos, com efeito, nos tempos em que com trocas de badulaques de nosso questionável modo de vida comprávamos a inocência algo irrefletida de povos que, guardando origem num mundo paralelo ao nosso, talvez que tenham pecado por infinita boa fé nos visitantes bem intencionados que, a qualquer tempo, tentam sobrepor suas referências culturais como a última bolacha do pacote, a ser assimilada a qualquer preço pelos povos com que se deparem, com base nos seus interesses colonizadores nas terras daquele mesmo povo!

Penso, tendo em conta toda esta reflexão, que Deus é sábio, e não é outra a razão maior da dificuldade que ainda nos mantém neste isolamento cósmico que não nos permite contato com as demais civilizações  mais avançadas do universo!

Deus é misericordioso, e certamente isto implica em preservação de nós mesmos, nesta nossa busca insana por domínio e por poder!

Devemos entender que nossa preciosa e falha civilização não justificará nunca invasão de terras alheias e domínio por meio da força bruta, lançando à indigência e ao extermínio centenas de seres inocentes! Porque, dado que humanidades muito mais evoluídas existem espalhadas noutros mundos, bem provável que, contatando-os com esta arrogância doentia, se encarregassem elas, eficientemente, de nos fazer dar meia volta, recolocando-nos no nosso devido lugar de compreensão pífia do que de fato significa respeito pelo outro; pelos valores alheios, e por esta mesma diversificada manifestação de Vida presente não somente aqui, quanto também nas extensões inimagináveis da Existência!

E tudo, no final das contas, pertence mesmo, única e exclusivamente, a este Deus, ou a esta Existência Criadora - como queiram chamá-la! - não, e nunca, a nós!


 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 29/12/2012
Alterado em 29/12/2012
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