Outro dia, lendo na minha página do Recanto das Letras a publicação de alguns poemas antigos que redigi na época de universidade, um amigo comentou que os adorou, e que deveria me dedicar a criá-los e publicá-los mais vezes. Contente por ter os textos caído no agrado dos leitores, andei imaginando que, se algum dom me cabe na produção poética, bem possível seja que o deva ao fato de ser filha de pernambucana. Neste sábado último, realizei meu último e mais caro sonho em relação ao comparecimento a shows de cantores do meu agrado, assistindo à uma apresentação única do Fagner numa boa casa de espetáculos na zona sul do Rio de Janeiro. E, em autêntico estado de deslumbramento, cerca de duas horas depois saía do lugar comentando com familiares e amigos que, em matéria de ida a shows de músicos brasileiros, já poderia morrer feliz, de vez que já assistira os que considero os maiores de todos: Fagner e Zé Ramalho! Provavelmente trata-se de opinião parcial, de quem tem o componente nordestino no sangue. Mas permita-me expressar o justo parecer de que, dos nossos maiores artistas, grande número procede desta região abençoada do Brasil, e certamente não por acaso! Conheço o nordeste praticamente inteiro. Sou apaixonada pela região! Daí o ter-me vindo fácil a conclusão de que quem nasce em tais condições, contando com aqueles cenários e ares paradisíacos passíveis de injetar na índole e nas veias a hereditariedade poética da melhor qualidade, conta com condições excepcionalmente privilegiadas, que vem justificar plenamente a afirmação de que esta região de nosso país nos presenteia talvez que com os melhores músicos e compositores do mundo! Certa vez, há muito tempo, uns vinte anos atrás, quando eu já fora prazerosamente contagiada pela hipnose das melhores expressões da musicalidade nordestina de nosso país, lembro-me de ter ouvido o comentário ao mesmo tempo pitoresco e verdadeiro de uma colega sobre Fagner (cearense ela; mas e daí?!), quando conversávamos sobre suas músicas e a beleza de sua voz: - Ai, meu Deus, imagino a voz daquele homem falando no meu ouvido, hem?!.. Fui obrigada a dar-lhe plena razão! Porque não apenas nos ouvidos dela aquela voz de timbre único, hipnótico, faz sair voando - mas a todos que até hoje escutam suas músicas e assistem a seus shows! De onde, portanto, se originarão estes timbres de voz, de melodias de outro mundo; de letras cujo conteúdo poético transcendem ao lugar comum, que não daquela maior e melhor sublimação do espírito artístico que bebe em fontes aparentemente sediadas fora das asperezas deste planeta? De onde nascem as vozes - o poderio feminino cheio da paixão exclusiva presente nas interpretações de Elba Ramalho; o nascedouro de um verso como o "eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras um mundo de sol", de um Zé Ramalho; de um poema bucólico e sublime como o Noturno, de Fagner; o sentimento gostoso e acolhedor que tão fácil acha sintonia e afinidade em nosso íntimo, num De Volta Pro Meu Aconchego, de Geraldo Azevedo, ou na transcendental Anunciação, de Alceu Valença, senão naquelas visões celestiais repletas de coqueirais luxuriosos bordando as areias brancas dos mares cálidos, verdes e rasos de cidades como Fortaleza, João Pessoa ou nas praias pernambucanas? Djavan, com seus ecos melódicos acalentadores procedentes nas hereditariedades poéticas de Maceió; Gil, Betânia e tantos outros com sua contribuição musical rica a partir das terras da Bahia?! Possuo muitas preferências dentre artistas de outros estados ou estrangeiros, ingleses, ou de outras procedências, principalmente entre os atores; mas, sem medo de incorrer em injustiça, bairrismo ou parcialidade, há que se afirmar, sem medo de errar, que é justo agradecer a Deus por contarmos, aqui, no Brasil, e articulando o nosso mesmo idioma, com os maiores músicos do mundo! "Guerreiros são pessoas São fortes, são frágeis Guerreiros são meninos No fundo do peito Precisam de um descanso Precisam de um remanso Precisam de um sonho Que os tornem perfeitos" Guerreiro Menino - Fagner Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 11/11/2012
Alterado em 11/11/2012 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |