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"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos

A GRAMA DA CASA DO VIZINHO



grama

















"A grama da casa do vizinho é sempre a mais verde..."

Na introdução de sua próxima obra, Iohan, autor espiritual de meus últimos livros mediúnicos, alerta para a nossa negligência, às vezes inconsciente, para com o modo como a vida nos presenteia com presenças importantes à nossa volta... enquanto, frequentemente, sem nos darmos conta, "sonhamos com pessoas e situações por ora inalcançáveis, distanciados de nossa realidade mais imediata..."

Estendo esta reflexão oportuna para abranger todo o contexto de nossas vidas. Quando, não contentes em negligenciar ou menosprezar os seres que nos rodeiam, colocados não por acaso ao nosso lado pelos entrelaces cármicos positivos ou negativos a conta de precioso aprendizado, ou troca valiosa na convivência, alongamos nossos suspiros e olhares também para contextos outros, que não necessariamente são proibitivos aos nossos anseios. Não há nada errado no desejo de se ansiar melhores condições espirituais, amorosas, ou progredir materialmente com finalidade sadia, assimilando-se bons exemplos alheios no campo do trabalho e da criatividade visando bem viver com base no mérito pelos próprios esforços.

O erro começa, contudo, na mania de com frequência se menosprezar, tácita ou abertamente, o seu repertório de vida; invejando-se ou valorizando-se, inadequada ou inadvertidamente, as aparências de superioridade presumidas ou acreditadas da arrogância eventual dos posicionamentos alheios. Porque - a observação isenta nos confirma, amigo leitor! - há, também, a tendência, em inúmeros seres, de aparentar de caso pensado perfeição no seu histórico cotidiano, fundamentada via de regra em insegurança ou baixa auto-estima, com que se mascara muito bem o lado humano das rotinas. E há quem acredite piamente nesta pantomima; e origina-se assim, na crença na autenticidade destas aparências, a forma como muitos outros consideram a grama do vizinho mais verde do que a sua própria! Com base em dissimulações ilusórias! Esquecendo-se frequentemente de que se possuí, junto a si, o tesouro exato às suas necessidades, a que crie e construa seus dias melhorando-se como pessoa, e auxiliando aqueles com quem convive a fazer o mesmo.

Lembremos de que na arena diária possuímos a conjuntura familiar cheia de contrastes que, malgrado isto, não empalidece os momentos preciosos, que em nada são pagos por quaisquer trocas imaginárias de situação! Muita vez, em embate ríspido com irmãos, parentes ou filhos, nos perguntamos por qual razão não fôramos agraciados com situações e temperamentos mais compatíveis, de molde a nos assegurar uma plenitude de serenidade e de harmonização com que ainda não contamos nesta dimensão movimentada por desafios e provas que nos compelem ao progresso evolutivo. Bem possivelmente, num irmão ou filho dado a polêmicas ou ao assédio obsessivo, reencontramos desafetos ou indivíduos com quem desavisadamente ensejamos enfrentamentos críticos, nas oportunidades de convivência de um passado longínquo do qual, no presente momento, nos vemos resguardados das lembranças. Mas consideremos friamente se, em sã consciência, valeria a pena a troca arbitrária ou fantasiosa da atual situação.

Trocaríamos a lista de bons momentos que certamente existiram até então, nos lances da presente jornada? Salvo episódios trágicos da convivência com que alguns ombreiam neste mundo, retratando casos cármicos mais graves, não pontilharam, acaso, o decorrer do tempo, instantes descontraídos e alegres, suavizando as prováveis desavenças que mais não representam do que a lição valiosa da tentativa de conciliação entre diferenças?

Não terão existido os passeios em família, em que todos gargalharam durante um piquenique, esquecidos de desentendimentos convenientemente já quase sepultados pela passagem das horas e dos dias? O carinnho do filho, o sorriso e o socorro oportuno de um pai ou uma mãe em momento de dificuldade extrema, funcionando ao modo de oásis no tórrido deserto?!

Será a casa de mais cômodos do vizinho de fato tão melhor quanto porventura se tenha alardeado, nas tentativas pueris da vaidade humana de denotar superioridade de cima de componentes fúteis? Haverá felicidade autêntica para quem convive em mero espaço material maior? De fato abrigará, aquela circunstância transitória, a raridade de seres despojados dos problemas comuns ao contexto vital do mais humilde ao mais bem aquinhoado homem, durante o período fugaz de sua estadia na Terra?!

De fato representará, a subjetividade da beleza física de um outro ser humano, motivo de realização autêntica - ou fonte de decepções, num tipo de armadilha que a muitos vitimiza, para se obter, ao fim de tudo, a prova de que a realização real não encontra garantias em quem magnetiza um outro ser com base exclusiva nos vernizes das aparências?

E não será indício, esta postura altaneira comum a muitos, que querem se supor acima da condição natural a todos, de desafios, problemas e sofrimentos recorrentes ao todo da humanidade, mero artifício, para que nos ponhamos a pressupor digna de inveja qualquer situação que não seja a de nossa própria realidade individual, menosprezando o enredo ao qual fomos chamados a conviver no capítulo atual de nossas jornadas evolutivas?

Não, caro leitor! Ninguém pode se afirmar isento de momentos de maior fragilidade, durante os quais nos questionaremos, ou indagaremos de Deus as razões pelas quais não atingimos mais de imediato aqueles nossos melhores sonhos! Todavia, guardemos a certeza de nossa condição eterna, e da inverdade da unilateralidade dos caminhos do porvir! E assim seremos reconfortados com a noção da abundância generosa da vida para com os nossos destinos! Isto nos segreda que, se mais ali à frente muito mais nos aguarda em conquistas justas de consonância com nossos sonhos, lutas e méritos, no agora onipresente de nossa trajetória, porém, nada substituí condignamente aquela gargalhada cristalina de nossos filhos num sábado indolente, ou o trabalho e o lar! As melodias próprias do nosso atual momento!

 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 14/10/2012
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