Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

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ATUAIS CAVALEIROS DA TÁVOLA


De vez em quando me encanto com a mensagem de algum filme. Pra valer! Considero a dramaturgia um instrumento poderoso de sementeira de um mundo novo, porque a arte dramática, operando na divina oitava criativa, realiza a sua química bem no cerne daquela essência da Criação maior presente em todos nós. É, portanto, de si só, alquímica! Conseqüentemente, ferramenta potente para fomentar o encontro individual de cada qual, em seu íntimo, com o seu Graal particular: com aquele tesouro libertador e transmutador do ser humano, encarcerado na sua oitiva perceptiva mundana, num outro cidadão e co-participador ativo na construção de todo o vasto Universo visível e invisível!

Do ângulo pessoal em trabalhos regressivos, outra explicação já obtive para esta fulminante empatia, explicação esta que o decorrer gradativo dos anos só fez corroborar: a minha intimidade espiritual, de índole e de vivências noutras épocas e dimensões, é imantada com a Arte da raíz dos cabelos até a medula! Marília Bourbon, ilustre terapeuta regressiva com quem tive o prazer de privar numa sessão de mapa astral cármico, já disso me advertira há muitos e muitos anos atrás. Hoje, de experiência e de coração, constato ser esta assertiva um "raio x" fidelíssimo da essência de tudo que pratico, dissemino e aprendo. Daí, então, se explica, por si, a minha tendência natural de enxergar com muita clareza as mensagens subliminares de grande beleza presentes no teor dos trabalhos artísticos de diversas vertentes, mais especificamente nas exibidas na cinematografia de hoje em dia.

Ontem assisti outra vez, em dvd, a versão para o cinema de Rei Arthur, do meu diretor predileto, Ridley Scott - à parte polêmicas neste sentido e restrições de quem o acusa de neste filme desvirtuar muita coisa e abusar da liberdade criativa para exibir situações inverossímeis e absurdas do ponto de vista histórico.

Mas penso que, neste caso em particular, é perdoável. Há quilos de livros hoje em dia que exploram o tema Rei Arthur e Cavaleiros da Távola, Graal, Templários e similares. Num tema como este, de si só fadado a, inevitavelmente após tantos séculos, oscilar entre a lenda e a realidade, torna-se desculpável, compreensível e até bem admissível que a Arte disponha largamente do assunto, valendo-se dele para transmitir uma mensagem de grande luz para as mentes e corações dos admiradores do cinema, conforme se deu num momento único deste filme de grande impacto visual e dramático para todos os amantes dos épicos.

"Cavaleiros! Vocês têm a liberdade!(...)" - diz Arthur para os seus guerreiros da Távola, Lancelot, Gawain, Tristan, Galahad, Bors, quando afinal, libertos das suas obrigações para com a então decadente Roma, se vêem do poder de seus salvo-condutos para seguirem o seu caminho. No entanto, uma última batalha ainda lhes restaria: no caso, para salvar a Bretanha das mãos dos temíveis saxões. Batalha esta em que apenas a lealdade para com o ideal de Arthur - o ideal da defesa da liberdade de um povo - justificaria ainda as suas presenças. Assim, Arthur, numa bela cena sob o dourado cair da tarde das montanhas, prossegue no seu discurso: A casa de vocês, no entanto, é onde vocês estiverem, e em vocês, e no que vocês fizerem das suas vidas!(...)

Transmite-se aí, nesta imagem lindíssima, todo o insight para as gerações que hoje necessitam apenas deste lúcido ângulo de visão, a partir do qual, como autênticos Cavaleiros atuais, podem enxergar, no aqui e agora, revivida e nada lendária, a Távola; a mesa redonda da igualdade, onde todos se posicionam como iguais, e com direitos iguais à liberdade, à vida e ao que melhor possam fazer a seu respeito; e o seu Graal, o alvo posterior da busca do Cavaleiro Galahad: a taça alquímica da última ceia de Cristo comutadora do interior do ser humano da escravidão hodierna dos interesses mesquinhos do mundo à posse da eterna juventude, da imortalidade; a herança natural de todos nós, a partir do momento em que nos disponhamos a assumi-la com a visão correta do sentido daquela Vida mais vasta que em nós habita de direito, e que a todos nós aguarda!

"A nossa casa está onde estivermos e no que nós fizermos dela!"

Que são nossos ideais de liberdade?

Todos dispomos de uma espada Excalibur diária que empunhamos nas lutas do dia-a-dia. Mas com quais propósitos? A pretexto de uma liberdade emparedada pelos condicionamentos sociais que nos tolhem com julgamentos precipitados sobre pessoas e situações; que nos atiram à intolerância arraigada para com o ponto de vista e para com os direitos de outras pessoas e de povos não mais que somente diferentes de nós mesmos, proclamando, então, uma liberdade parcial e passional atrelada apenas aos nossos interesses? Ou da Liberdade real, que devemos ambicionar não apenas para nós mesmos, mas naquele sentido mais amplo, abraçando e buscando conciliação e coexistência com todas as demais liberdades de ação e de pensamento - a única coisa que, em última instância, nos presenteará com este mundo entressonhado de mais paz e de mais amor nos nossos dias e no futuro?!

O Rei Arthur e os seus Cavaleiros, reais ou nem tanto, num passado que nos é de truncado acesso, são uma maravilhosa alegoria de todos nós, e da nossa trajetória no mundo, se bem soubermos apreender a importante lição transmitida no que se entremostra em meio às névoas da lenda e da realidade histórica.

Que seus apreciadores e amantes das lendas Arthurianas, pelo menos, se dessem conta disso, seria algo bem desejável, para que novas gerações se organizassem, imbuídas em torno do Código valoroso da legendária e real Távola Redonda, e em prol de um bem maior e comum! A mais gratificante das batalhas: a conquista da verdadeira Liberdade, e decorrente paz obtida, antes de mais nada, a partir daquilo que reside, primordialmente, em nós mesmos!

Eu abraço esta causa! E vocês?!

Quem mais se candidata a ser sagrado Cavaleiro, sem medo e com ousadia, em pleno século XXI?!


 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 21/09/2012
Alterado em 21/09/2012
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