Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


 
A ÚLTIMA GRANDE LIÇÃO

Hoje é dia de Corpus Christi, data que celebra Deus como o alimento espiritual da vida humana. E, em meio às reflexões da manhã, veio-me a recordação do episódio da vida de Cristo, ilustrado no filme Rei dos Reis: ao visitar João Batista em sua cela, Jesus argumenta para o centurião que o guardava, e resistia em permitir seu acesso ao prisioneiro:
- Vim libertar João, dentro de sua cela... - E, ante a natural estupefação do guarda, longe que se achava de alcançar a sublimidade da significação do que era enunciado, esclareceu - Você se julga livre porque vai para onde quiser. Mas, em verdade, continua um prisioneiro, porque coloca a fé somente na ponta de sua espada!...
 
Amigos, que se perceba que é exatamente neste sentido que Deus é o principal alimento espiritual do homem! O ser humano, voluntariamente, se escraviza a conceitos, pessoas e situações. Depois, descobre-se em miséria, e tende a projetar a culpa desta condição nestes mesmos conceitos, pessoas e situações - esquecendo-se de que só possuem sobre si o poder que ele mesmo conferiu! Daí a verdade de que o complexo de vítima não há de levar ninguém a nada, para solução eficiente de qualquer problema.
 
Subjugado pela crueldade do sistema farisaico-romano, João Batista se viu liberto em plena cela. Porque, assim como Jesus, vivia em outra faixa de percepção da vida! Outra era a perspectiva;. Não lhe importava a liberdade sob as imposições e condições de Herodes! Livre - desde que renegando a Verdade maior, já conhecida e realizada, em si, quanto para com os que com ele compartilhavam o dia-a-dia.
 
Autêntico paradoxo - João Batista era livre, dentro de sua cela! E o centurião, um escravo, preso na suposta liberdade! Como acontece, ainda hoje, com muitos, que ainda não se acham despertos, nutrindo-se, de modo mais ou menos consciente, não do verdadeiro pão da vida - mas de ilusões, admitidas ou auto-impostas. Assim, achamo-nos escravizados às sensações dolorosas das injustiças alheias, apenas porque não nos deslocamos o bastante para perceber as situações de uma nova perspectiva.

Julgamo-nos injustiçados por cônjuges ou familiares, sem nos apercebermos de que nós mesmos nos fechamos na atitude contraproducente de, por força, tentar descaracterizar o modo de ser do outro, impondo-lhes nossos pontos de vista. Mas nos concentremos na tentativa honesta de renovação, oferecendo aos companheiros de convivência o direito de opinião e de liberdade de agir segundo sua percepção, e se constatará como a simples mudança acalmará o mar revolto, como passe de mágica!

Acusamos o mundo de mazelas sempre existentes, que nos flagelam a índole mais sensível - esquecendo-nos de que basta-nos reposicionar o modo de olhar descuidado do que nos serve de preciosa lição de contraste com a luz, a fim de não apenas preservar nossa sensibilidade da apreciação gratuita de atrocidades, mas também para aproveitar cada chance para se exemplificar como tudo poderia ser melhor!

Nos jogos de dinheiro e poder, sentimo-nos frequentemente amesquinhados diante dos parâmetros duvidosos com que nossas melhores habilidades deixam de ser reconhecidas. Esquecemo-nos de que, em tal contexto, a libertação maior é o dom supremo da consciência tranquila, e da disposição de se reconhecer que a vida não nos confina, de forma unilateral, numa única realidade - concede-nos sempre o direito de expansão e de aprendizado, a partir de novas referências, de novos valores, e de oportunidades simultâneas de busca da felicidade e realização individual!

Horrorizamo-nos diante dos cenários de miséria planetária - mas recusamos a oportunidade singela, embora valiosa, deparada casualmente na imensa agitação da passagem dos dias, para minimizar um quadro que seja de carência dos muitos que nos ombreiam os movimentos nas vias turbulentas das grandes cidades!
 
Aprisionamento dentro da liberdade!
 
Queridos: alcemos vôo! Já é passada a época de assumirmos nossa maturidade espiritual, em tempos de revelações supreendentes com que nos presenteiam os habitantes das múltiplas dimensões que nos aguardam a continuidade dos caminhos! Imitemos a serenidade de Jesus na cruz, seguro, mas compassivo das limitações de entendimento humano, e nos libertemos de maneira semelhante, assumindo, para maior alegria de nossos dias, que não somos o dinheiro ou os contraditórios julgamentos alheios! Nada somos, apenas estamos; e não vivemos confinados unicamente em casas, salas ou escritórios! Pois a verdade definitiva da vida jamais residirá na unilateralidade tacanha de percepção dos fatos, nos enganos de julgamentos, ou nos horrores dos erros testemunhados durante a interação entre pessoas, povos ou nações!
 
A verdade da Vida será tal e qual é admitida para a nossa realidade, a qualquer tempo! Então, sejamos livres em nossas voluntárias celas! E, repentinamente, perceberemos vasta campina florida e ensolarada por entre as agruras ainda presentes nas curvas tortuosas dos caminhos deste mundo!
 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 07/06/2012
Alterado em 07/06/2012
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