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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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DA QUALIDADE DO TRABALHO ESPÍRITA

Seu Antonio, saudoso presidente e palestrante da Sociedade Espírita Ramatis, no Rio de Janeiro, não se cansava de comentar, no princípio de seus discursos sempre inspirados na tribuna da Casa, diante das platéias repletas das quartas-feiras:

- Se dez por cento dos aqui presentes aproveitarem de fato o que for dito, já poderei me dar por satisfeito! Porque há os que dormem, e aqui comparecem apenas para preencher o número de frequências no cartãozinho; há os que aqui ficam diante de nós, pensando no que farão para o jantar, ou na roupa, ou no carro novo do vizinho... Em suma: aqui estão, antes, desperdiçando o seu tempo; porque nada se aproveita nas palestras da Casa espírita, se não estiverem imbuídos da disposição correta de se assimilar com proveito o trabalho que desenvolvemos. O sujeito comparece aqui achando que o simples fato de vir à Ramatis e pedir favores dos espíritos irá resolver, num passe de mágica, todos os seus problemas! Puro engano! O que resolve os problemas é a mudança de atitude! A compreensão do que ensina a doutrina dos espíritos e a vontade verdadeira de se reformular interiormente!...

Era, pois, mais ou menos nestes termos que seu Antonio falava às platéias de suas palestras, conhecedor que era da alma humana, depois dos muitos anos à frente da direção de uma casa espírita de porte considerável, que até hoje oferece os seus trabalhos valiosos de auxílio e de esclarecimento do ser humano a respeito das nossas realidades espirituais!

Postulava, na sua sabedoria, um questionamento válido em todas as épocas. Porque, ainda mais hoje, muitos anos depois de sua passagem para o mundo maior, com a expansão incessante da influência e da divulgação da Doutrina pelos trabalhadores envolvidos com o Movimento Espírita, deparamos com a mesma espécie de impasse - tanto da parte dos que buscam o espiritismo para a solução de seus dilemas de vida, quanto também daqueles que - preciso reconhecer! - muitas vezes se confundem nas suas iniciativas, embora talvez bem intencionadas, de disseminação das mensagens do Mundo Maior para quem estagia temporariamente nos cenários da materialidade!

Há a inequívoca tendência de se confundir quantidade com qualidade! Centros, casas espiritualistas, palestras e eventos de maior ou menor porte; livros, médiuns, se alastram para todos os lados! Ora, tudo isso era de se prever, e foi mesmo dito, acerca do engrandecimento da seara, onde muitos mais se somariam aos habitantes das dimensões invisíveis para auxiliar a humanidade neste período importante de transição terrena! Todavia, amigos, há que se atentar, principalmente, à qualidade dos resultados do que vimos empreendendo. Porque, forçoso reconhecer que, nesta questão de quantidade de seguidores, simpatizantes e postulantes do Espiritismo, mais do que nunca impera a relatividade de resultados!

Como asseverava Seu Antonio, de cima de sua experiência e sensibilidade intuitiva, de que adiantam platéias cheias dentro de um Centro Espírita, se a disposição interior de cada um ali presente não se modifica, e o indivíduo não se sensibiliza para com os objetivos reais da mensagem dos Espíritos aos reencarnados?

Com efeito, das cem pessoas presentes àquelas palestras, talvez dentre cinco a dez aproveitassem, em variadas vezes, de maneira adequada, o néctar das revelações oferecidas! Então, útil se torna a qualquer tempo, a trabalhadores e comunicadores do movimento, a consciência vigilante para a realidade de que casa espírita cheia e platéias repletas em dias de palestras de evangelização não representam, necessariamente, razão de envaidecimento próprio ou ufanismo de qualquer espécie, ante a tentação de se vangloriar como um divulgador bem sucedido!

Muitas vezes, o centro mais humilde, que conta com um grupo de frequentadores reduzido, mas fiel, dentre dez a vinte pessoas, é muito mais comprometido com os objetivos autênticos da mensagem espírita do que aquele outro, que arrebata multidões!

Possível mesmo que a Espiritualidade assistente desenvolva, ali, projetos de parceria mediúnica mais bem sucedidos, que alcançam resultados mais satisfatórios. Porque libertos da sobrecarga inevitável de burocracias, do jogo sutil e muito humano das vaidades subreptícias dentre funcionários e dirigentes, em variadas vezes inevitáveis! Conta-se, desta feita, com ambiente mais profilático, sereno. Desobstruído e liberto do tumulto energético corriqueiro das falhas e limitações humanas, presentes neste campo de atividades tão peculiares e cheias de nuances! Precisa-se - e ali encontra-se, neste contexto - do equilíbrio harmônico dos trabalhadores reencarnados, se o que se quer, de fato, é prestar auxílio de corpo e de espírito aos muitos que acorrem a estas instituições em busca de lenitivo para os incontáveis dramas de suas vidas!

Assim, também o médium passista e de cura, ou incorporador humilde que, de todo coração, embora anônimo, dedica algumas horas, por puro amor da causa, em benefício do esclarecimento e bem estar dos semelhantes - longe do aparato das câmeras de tv e dos noticiários de revistas ou do ambiente globalizado da web. O dirigente da instituição menor, cheia de dificuldades de ordem material corriqueiras, embora honesta nos seus objetivos de divulgação da doutrina. O escritor, colunista, ou palestrante menos conhecido. Nenhum se importando com holofotes e quantidades - senão com a quantidade exata dos que lhes recorrem ao conhecimento das mensagens espirituais, ou do labor mediúnico, de fato interessados no proveito real daquilo que, no final das contas, resume tudo o que o mundo espiritual que nos rodeia, entre atento e amoroso, anseia em nos transmitir e nos beneficiar!

Amigos: a qualquer tempo e época, o objetivo real do intercâmbio entre as dimensões materais e espirituais da Vida se resumirá a esta pedra fundamental: qualidade de resultados!

Não quantidades! Não multidões, talvez acorrendo a muitos sob as influências relativistas dos interesses de divulgação midiática, mas sem quase nenhum proveito que não a exaltação desta ou daquela personalidade!

A Espiritualidade amiga haverá de se dar por feliz, sobretudo, com aqueles poucos, mas privilegiados, que saem da Casa Espírita, ou da leitura de um livro, ou audição de palestra, verdadeiramente inspirados, alentados, modificados ou esclarecidos interiormente sobre os verdadeiros objetivos do aprendizado de nossa curta passagem pelos caminhos materiais do mundo!
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 31/05/2012
Alterado em 31/05/2012
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