Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos

PIPOQUEIRO DA GUARDA
 





 
Juro que aquele pipoqueiro nem nunca esteve lá antes, e nem jamais depois! Aparentou se materializar do nada, somente para berrar aquela pérola, salvar vidas, e depois se diluir!

Isto já aconteceu há alguns anos. Vínhamos todos no carro da minha cunhada, moradora de uma cidade do interior de São Paulo, que, em chegando na esquina da minha rua, um cruzamento onde normalmente o trânsito é bem intenso, achou de enveredar justamente pelo mão errada da da rua, naturalmente desconhecendo esta região da Tijuca, no Rio de Janeiro.

O carro vinha cheio, as crianças junto conosco, em meio ao maior bate-papo! No que ela fez isso - e para nossa sorte num momento milagroso, em que carro nenhum sequer se aproximava da esquina de onde saíamos! - veio o berro, de um ângulo daquela esquina, naquela hora deserta:

- Aêêêê!!! Quer matar a família?!!!...

Paramos, atarantados, e demos com o pipoqueiro solitário, apoiado no seu carrinho placidamente, e observando a cena com ar bonachão e debochado, de mãos na cintura.

De uma guinada minha cunhada freou, deu a volta. E pisou no acelerador no sentido certo da rua, enquanto, dentro do carro, caíamos na gargalhada!

Nem nos preocupamos, ingratos que fomos, em olhar para trás e agradecer devidamente ao homem o aviso, vá lá, escrachado e escandaloso, mas bem intencionado, heróico!

De lá pra cá, observei constantemente aquele trecho da rua Barão de Mesquita, várias vezes! Nem em dias de semana e de maior movimento (aquilo deveria ser um sábado ou domingo), com a escola próxima em pleno funcionamento, e o ir e vir de gente indo ao mercado, banco, ou ao trabalho, jamais vi, por ali, qualquer pipoqueiro!

Na época, não interpretei deste jeito; mas hoje me pergunto se não se tratou, aquele pipoqueiro, de algum espírito protetor disfarçado e devidamente materializado, dando uma de anjo da guarda para salvar várias vidas! Porque pipoqueiro é profissional normalmente sedentário, que fixa ponto em portas de escola ou em praças nos finais de semana! Jamais aparecem aleatoriamente numa esquina deserta e sem chances de vendas, para depois sumir, e nunca mais voltar!

De qualquer modo, marcou a nossa história de família para sempre, a aparição daquele "pipoqueiro da guarda"!

E, certamente, somos eternamente gratos por isso!


 
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 04/03/2012
Alterado em 04/03/2012
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