Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


PARA ENGANAR A QUEM?!...

Vai este artigo em estilo pouco usual ao meu próprio. Mas é que por mais sejamos brasileiros tipicamente brasileiros - entenda-se: passivos - excessivamente passivos diante do festival de desmandos observados em todas as vertentes sociais e políticas do país, a desaguar em incessante reação em cadeia de atribulações nas nossas vidas diárias...por mais esteja eu inserida neste lastimável contexto da atualidade do Brasil, não posso me furtar a um desabafo. Leia-se este texto, portanto, como protesto fortuito quanto a um determinado gênero de disparate observado à farta, à repetição, entra ano e sai ano!...

Meus conterrâneos cariocas: estão contentinhos com a estóica e heróica inserção desta alardeada Força Nacional de Segurança no cotidiano do peculiar filme de western - já com cores de um drama terrorista, no pior estilo americano hollywoodiano - que é o nosso Rio de Janeiro?! Estão contentinhos?! É?!...

Rá!!!

Também fiquei contentinha, confesso, ao ouvir de início estas novidades no noticiário da cidade, alardeadas em ritmo tão politicamente correto quanto pobremente maquiado com cores brilhantes de farsa! E essas cores derreteram rápido, tão logo ouvi o post scriptum! E sabem qual foi ele?! Qual foi, meus sofridos conterrâneos?!...

O postscriptum, que fez a estranha e heróica notícia ganhar afinal sentido e coerência com todo o triste enredo de nós presenciado por anos incontáveis, no que tange ao secular descaso com a população do Rio, foi a data limite - a data de validade de atuação desta tal Força de Segurança Nacional, encomendada especialmente, e como sempre, para assegurar a paz e a tranqüilidade...
até o final do Pan!...

Até o final do Pan no Rio de Janeiro, meus queridos cariocas e fluminenses!

Estavam contentinhos, achando que o governo, as autoridades de direito, ou seja lá quem fosse, afinal tinham se tocado - já com atraso milenar - e envidado humildade, na hora de solicitar ajuda federal para garantir a paz, a tranqüilidade, e a segurança...da população?! Do povo do Rio de Janeiro?! Não, meus caros! Lêdo engano! Não caiam nessa, porque este filme já se repetiu num sem número de vezes no passado!

Eco 92! Visitas de autoridades estrangeiras do alto escalão no Rio de Janeiro! Do Papa; e vai por aí afora. O que tivemos?! Exército nas ruas! Paz e tranqüilidade imposta em estranho processo abrupto, anormal, na base da força bruta, policial, política...e foi mendigo recolhido às pressas para abrigos da prefeitura, foi tanque e homens armados espalhados para todo lado, patrulhas, blitz, uma invasão de forças de tarefa em cada esquina do Rio de Janeiro...para vender pra fora do país uma imagem de ordem e de controle da situação que não existe de fato, no nosso cotidiano! Para proteger turistas e autoridades que nos visitam de inopino, e que vão embora poucas semanas depois, felizes e iludidos, achando que a Cidade Maravilhosa não é ainda um caso perdido...

Mas é! Vem sendo, a cada dia mais! Turista, esportistas e autoridades estrangeiras, de fato, não sobreviveriam duas semanas aqui sem todo este contingente cinematográfico! Eles não têm a nossa cancha! Não desenvolveram os mecanismos de sobrevivência, o jogo de cintura árduo que, no decorrer de décadas de medo e de insegurança, por puro instinto de sobrevivência, envidamos para a nossa defesa, bem estar e integridade, nossa e de nossos filhos. Turista estrangeiro não tem noção de que a maior parte das pessoas da média da população não tem mais coragem de sair depois das nove ou das dez horas da noite, senão por bons motivos que o justifiquem! Foram-se as épocas boas em que podíamos sossegadamente programar um jantar fora até altas horas da noite com a família n'algum bom restaurante; foi-se o tempo em que eu saía com a galera para o happy-hour, para dançar depois do expediente, certa de que voltaria para casa viva, ou quando muito inteira, com todos os meus pertences, corporais ou não. Foi-se a qualidade de vida, ou o que se entende por ela, no nosso belo e amado Rio, minha gente!

O que se vê diariamente é muita gente apavorada; muita cerca eletrificada; muita tranca nas portas - no mínimo duas, não menos, afora os interfones, câmeras de segurança nas portarias...Casos contados à farta, por dez entre dez cariocas, de pelo menos uma ocorrência onde se viu vitimado por furto ou assalto; mães amedrontadas de sairem com seus filhos pelas ruas. Medo! Medo! Medo...

E a Força de Segurança, esta elite alardeada em todos os meios de comunicação, afinal é convocada a atuar no Rio de Janeiro em tempos onde as primeiras práticas confessamente terroristas - o sr. presidente Inácio Lula da Silva não me deixa mentir! - se alastram por Rio de Janeiro e São Paulo como praga, como mais uma praga infernal, e justo a mais hedionda de todas na história do medo nos nossos tempos! 

Orgulhosamente, os noticiários avisam: a Força Nacional de Segurança chega ao Rio de Janeiro...em dias em que mais ônibus são queimados, mais um arrastão com vinte bandidos aterroriza o Túnel Rebouças...para proteger a sofrida e acuada população carioca...

Com prazo de validade até o final do Pan!!!...

Estão felizes, meus conterrâneos?! Estão se sentindo protegidos por algum suposto tipo de conscientização das nossas autoridades?! Sentem-se mais tranqüilos?!...

Eu, não!...

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 16/01/2007
Alterado em 16/01/2007
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