REALENGO - RIO DE JANEIRO
Ainda há pouco meu filho veio para mim: - Na lista de crianças mortas havia alguma Larissa? - Por que, meu filho? - pergunto, como todo o Brasil ainda mergulhada na maior consternação. - Porque uma amiga minha conhecia duas das meninas de lá. Uma delas se chama Larissa, e está na lista das crianças mortas... Até onde vai a extensão de nossa impotência? Normalmente escrevo para sites espíritas ou de auto-conhecimento, onde os temas forçosamente são mais leves, porque neles procura-se apresentar uma percepção de vida mais otimista, construtiva, não tão entregue a derrotismos e pessimismo, que é o normal quando presenciamos este tipo de hecatombe abandonados à nossa faceta mais humana. Aí, presta-se melhor um site mais eclético. É por isso que publico no Recanto das Letras a expressão desta minha faceta mais humana... E volto a propor a reflexão: até onde vai a extensão de nossa impotência? A extensão de nossa paciência?! De nossa esperança?! De nossa capacidade de suportação?! Durante o dia de hoje enfileirei em minhas lembranças tudo o que já passou e motivou textos ou perplexidade de minha parte e no âmbito geral, coletivo. E veio o cortejo assustador - alguns dos ítens ainda bem recentes, frescos em nossa memória: - João Hélio, Gabriela Sou da Paz, o outro menininho João, daqui mesmo, do Rio de Janeiro, baleado por acaso por um policial desastrosamente atrapalhado em suas funções... A sobrinha neta de uma antiga empregada, executada barbaramente em Queimados... Há pouco, as duas irmãs em São Paulo... Tantos! Tantos, bom Deus!... E terremoto no Chile e no Japão e no Haiti... E a desastrosa enchente serrana no Rio de Janeiro... E outra ainda nos EUA, anos atrás... E no Rio de Janeiro de novo no início do ano passado... E a tsunami na Indonésia... E a tragédia da guerra no Iraque e agora em todo o Oriente Médio... E surtos de dengue e outras epidemias mais... E futilidades sendo divulgadas à rodo! Reallity shows deprimentes, novelas de conteúdo francamente aviltante à moral e bons costumes... E noticiários diários que são banhos de sangue e de angústia sistemáticos! Como aliás definiu William Boner no começo de um dos noticiários das oito recente: um Circo dos Horrores! E por mais que o silêncio seja o que melhor se imponha neste momento, frente a tantos descalabros sucessivos, no cenário do inegável apocalipse dos tempos em que vivemos, a necessidade de desabafo se impõe, diante de nosso estarrecimento, como dito... diante de nossa aparente impotência! Seremos mesmo tão impotentes? Chamou minha atenção a mensagem da gravura postada acima: "O amor é a compensação da morte..." A Semana Santa vem chegando, e ocorre-me que Jesus sofreu uma destas grandes hecatombes, expandindo amor - este sentimento atualmente tão vilipendiado, atirado à obscuridade de sua poderosa expressão - até o seu último minuto. E é ainda por causa desta Mensagem, após dois mil anos, que a despeito de tudo insistimos em ter esperança. Muitos de nós! Sim... em sonhar e tentar realizar, na pequenez de nossos minúsculos atos do dia-a-dia, gestos que nutrem, aos poucos, um mundo de mais amor. Amor que certamente faltou na indigência desta alma atirada à perversidade da prática deste crime hediondo - amor que, provavelmente, não lhe dedicaram de maneira acertada e suficiente, até ao fim de sua triste vida. Amor que agora vertemos em lágrimas por todas as crianças vitimizadas pela barbárie, e às suas famílias! Que Deus, fonte de todo o arrimo e força interior, lhes acalente na prova, lhes robusteça o coração. E nos sustente, altivos, no bom caminho, durante a longa e eterna caminhada - a todos nós! Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 07/04/2011
Alterado em 07/04/2011 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |