Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


VIVENDO COM MERLIN...


Entre tantas outras coisas maravilhosas e surpreendentes que me aconteceram depois do momento em que afinal comecei a "despertar", do ponto de vista espiritual, - coisas que se dão num solene estilo atemporal e incondicional, se tomarmos como referência os limites de espaço, tempo e distância neste nosso pequeno mundo - ultimamente vi-me às voltas com mais uma dessas experiências, que me trouxeram à tona, em sincronia com todo um cortejo de indícios e sinais externos espantosos, o contexto de mais uma de minhas vidas passadas. Uma porta que se escancarou de repente, num jorro de claridade repentina, inopinada, e desencadeada a partir do reconhecimento regressivo abrupto de uma única pessoa, cuja identidade aqui não vem ao caso, e que, a bem da verdade, nem mesmo desconfia que o seu aparecimento repentino detonou toda esta ordem insólita de revelações e de profundo aprendizado, no encadeamento do meu cotidiano.

Ontem meu filho cismou de colocar no aparelho de dvds, altas horas da noite, o filme com a história do Rei Arthur e de Merlin - uma história que me parece mais realista do que as das lendas, dado o enredo pormenorizado do envolvimento de Arthur (Arctórius) e de seus lendários Cavaleiros com o domínio já precário de um Império Romano decadente, e de seus dilemas e desafios mais humanizados, a partir disso.

Eu já ia para a cama - sexta-feira, invariavelmente, me vejo esgotada, com a canseira acumulada das correrias da semana. Mas, na hora em que já me despedia para me lançar no leito, passando pela sala e olhando casualmente o filme no seu início, primeiro me atraiu um saco de biscoitos sobre o sofá, em função do qual me sentei um pouco para beliscar; e, a partir disso, o próprio filme - um dos grandes filmes da minha coleção - no qual, então, preguei os olhos, de início relutantemente, para depois não conseguir mais me levantar, esquecendo-me inteiramente do sono, e assistindo-o de um só fôlego, até o fim!...

Durante a exibição, e a propósito de Merlin, havia comentado com o meu filho sobre um meu livro antigo de Deepak Chopra, que venho arrastando comigo há anos, acompanhando-me desde há duas mudanças de residência, atualmente já com as páginas amareladas, e que, provavelmente, andaria metido no oceano que é a minha biblioteca particular, confinada num espaço que, a bem da verdade, anda cobrando medidas mágicas de expansão para comportar tudo que venho lendo com o passar dos anos. Disse a ele que hoje tentaria achá-lo, já que o seu conteúdo é uma preciosidade a respeito do verdadeiro significado de Merlin, o Mago, para a nossa vida atual, e de seus ensinamentos nas nossas realidades espirituais maiores.

Hoje, mal saio da cama, após tomar o café e com metade da casa ainda dormindo, passo ao acaso pela estante da sala e tomo um susto: o livro, "O Caminho do Mago" - que julguei ter que gastar ao menos algumas boas horas procurando - saltou-me aos olhos entre os muitos enfileirados! E meio empurradinho para frente, como se, ainda por cima, me chamando!

Um livro que não via há anos! E que, certamente, não se achava guardado naquela esquisita posição de destaque na qual se mostrava! Quase perplexa - se bem que não mais surpresa com este tipo de ocorrência insólita nos meus dias - avancei para ele. Desobriguei-me das primeiras atividades da manhã e me acomodei na varanda, entre as flores das minhas jardineiras, para percorrer um conteúdo que, dado o tempo decorrido, se me afigura mesmo como o de um estranho livro novo com páginas amareladas pelo tempo - exatamente o que nos oferece: lições em páginas amareladas cujo sentido, entretanto, e pertencendo ao próprio sopro da eternidade, será sempre jovem e vivo, como o próprio Graal que todos buscamos!...

Logo ao percorrer as primeiras linhas entendi mais esta lição do mundo de Merlin, no qual me meti para não mais sair já de há tempos: "Existe um mago dentro de cada um de nós/ Este mago tudo vê e tudo sabe"; "As pessoas de hoje vivem no mundo do mago tanto quanto as antigas gerações. Joseph Campbell, o grande mestre da mitologia, afirmou que qualquer pessoa que esteja numa esquina esperando o sinal abrir está esperando para ingressar no mundo de feitos heróicos e ações míticas. Nós simplesmente não percebemos a oportunidade que se nos apresenta. Atravessamos a rua sem perceber a espada (Excalibur, grifo nosso) cravada na pedra sobre o meio-fio"; "Assim que você descobrir o mago interior, o ensinamento prosseguirá por si mesmo (...) Já ouvi Merlin falar num riso que escutei por acaso num aeroporto, nas árvores sussurrantes durante um passeio pela praia, até mesmo na minha televisão (...)"; "Precisamos dele (do caminho do mago, grifo nosso) para poder abandonar o trivial e o monótono e avançar em direção àquele tipo de significado que temos a tendência de relegar ao mito, mas que, na verdade, está bem ao nosso alcance, aqui e agora"; "Esta é a voz de um mago, que não aceita que os seres humanos estejam limitados no tempo e no espaço"...

Ora... a experiência pela qual tinha acabado de passar nos últimos meses - embora não tão inédita, dado o rumo que minha vida tomou nos últimos anos como voluntária colaboradora e divulgadora, a partir do respaldo das minhas vivências, das realidades maiores da vida - mergulhou-me, nada obstante, em incansáveis reflexões! E tudo que precisava me ser relembrado, para um aclaramento maior da alma, era justamente o contido nessas lições mencionadas acima, já que os últimos acontecimentos foram o retrato vivo delas: a vida, no seu contexto maior, se governa por parâmetros que desobedecem teimosamente aos arrogantes axiomas humanos e limitados deste nosso universo visível, e perceptível, meramente, aos nossos sentidos viciados nesta mesma faixa de entendimento do mundo. Só que estes parâmetros se denunciam por sinais, dos quais se apercebem apenas os que voluntariamente ingressam nesta dimensão da visão de Merlin: na dimensão do guia interior presente em tudo e em todos, e que nos governa num fio contínuo, e a tudo em volta, por intermédio de revelações extemporâneas do ponto de vista tacanho das limitações do material.

Merlin, portanto, é o mago existente em nós mesmos - que se mantém calado até que nós lhe demos chances de falar. Porque ele nos transportará até as realidades mais vastas da Vida que, somente elas, haverão de nos explicar satisfatoriamente determinadas nuances e vivências, pertencentes a este histórico mais vasto, contido no cerne da nossa alquimia constante na eternidade que nos é inerente - no nosso Graal! E estas vivências se fazem acompanhar, invariavelmente, de sinais externos - a espada Excalibur encravada na calçada, bem diante dos nossos olhos na hora de atravessarmos no sinal! Mas à qual só haveremos de dar a devida atenção e sentido quando assumirmos em plenitude a condição infinita das nossas possibilidades, libertos de conceitos insuficientes para a elucidação completa de tudo o que nos acontece e nos aguarda, e prontos para a aventura indescritível que define a verdade da nossa trajetória no Universo!

Estavam, então, definitivamente elucidadas as últimas ocorrências nos meus dias...

Merlin falou!

Belos tempos devem ter sido os de Merlin e do Rei Arthur!


Com amor,

Lucilla







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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 14/10/2006
Alterado em 14/10/2006
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