MAIS OU MENOS...
Há urgência em se escapulir das armadilhas do "mais" ou "menos", neste mundo de extremos e de competitividade feroz.
Há que ser mais, ou, segundo a ótica questionável de cada um, e sem remissão, menos - que alguém, ou alguma coisa! Nesta conjuntura, ai de quem não cultiva senso crítico suficiente que nos permita ser centrados o bastante para diferenciar - se distanciar, e não se identificar irredimivelmente com as referências externas!
Ela é mais bela que, portanto serve para a capa de revista. Ele é mais estudado que, portanto o cargo é dele! Alguém é mais simpática que, portanto gosto mais dela; aquele é menos rico que aquele outro, portanto se veste melhor, e é mais referendado, nesta ou naquela situação...
Mais rico; mais pobre; mais belo; menos carismático; mais chato; menos inteligente; mais preparado...
O quanto somos mais ou menos nesta curta trajetória material terrena, dentre outras tantas, e o quanto já nos deixamos influenciar diariamente por esta ilusão de ótica?!
A lista não tem fim!
Só há um antídoto: o ser - em se considerando que, quanto a estas referências transitórias de julgamento ou de situações, não somos nada! Somente estamos, momentaneamente, deste ou daquele jeito!
Quem está menos estudado, pode vir a estudar mais e expandir seu espectro cultural.
Quem é considerado mais antipático, talvez possa vir a ser, antes, compreendido, se viermos a nos inteirar melhor de sua história de vida...
Quem é tido como menos preparado, certamente é dotado de inúmeros outros potenciais ainda não explorados profissionalmente, faltando-lhe, apenas, a oportunidade...
Adotemos, desta ótica, uma outra perspectiva: a do ser! - que vislumbra, mais acertadamente, o se estar de cada instante, com seu respectivo pano de fundo.
Preferível ser mais ou menos, em dependendo de cada momento. O célebre equilíbrio do se "dançar conforme a música.
Mais cuidadoso no ouvir antes do falar, e no ser tido, talvez, como o mais argumentantivo, que muita vez forja, por detrás desta verborragia brilhante, maior vaidade e ego, antes do interesse comum.
Menos presos a clichês na hora de se apontar o dedo para o próximo, considerando, como se diz sabiamente, que nesta atitude imprevidente sempre há três outros dedos apontado para nós mesmos! De sorte que, no mesmo minuto em que cochichamos aos afins que fulano é mais agradável que cicrano, alguém haverá de cochichar a outrem que somos menos simpáticos que outrem, de algum lugar!...
Mais magnânimos com fatos e convivências diárias... Só fará bem enxergar o mundo de uma perspectiva relativa para cada acontecimento, ao invés de se sentenciar este ou aquele, isto ou aquilo como fatal e irremediavelmente melhor ou pior. Lembremos daqueles dias em que nós mesmos nos julgamos insuportáveis, precisando contar com a complacência do julgamento alheio a nosso respeito - sabendo, melhor do que ninguém, que aquele nosso mau humor não era, de modo algum, definitivo!
Desta perspectiva, portanto, menos exigentes com o nosso vizinho de mesa ou de porta, usando para com eles de idêntica compreensão. Reflita-se friamente, e haveremos de nos recordar de pelo menos uma grande qualidade humana observável em cada um que priva de nossas rotinas, assim como, melhor do que ninguém, reconhecemos em nós mesmos virtudes que quereríamos levadas em conta pela crítica alheia - e por vezes implacável - a nosso respeito!
Mais controlados na hora da ira; menos impulsivos nos julgamentos de pessoas e situações; mais atentos ao que de belo reside na intimidade de cada coisa ou ser da grande sinfonia da Vida; menos entregues a lamúrias e à carga de negatividade impiedosa por vezes entrevista nas ocorrências de nossos tempos; mais sensíveis às necessidades de nosso semelhante; menos susceptíveis às enganadoras aparências forjadas em acontecimentos e indivíduos...
Mais cultivadores do que mais importa à excelência da qualidade de Vida: a prática honesta, íntegra, casta, do Ser - sobrepondo-a, necessariamente, à imposição utilitária do ter no mundo de hoje, aliada frequente do ser mais alguma coisa, nos lances fugidios dos nossos dias...
Ser!... nem mais; nem menos!
Fluir com a Luz; com a real qualidade de Vida; com o essencialmente Belo; com o Bom!...
Mais ser humano!...
Menos ser mais que!...
Afinal, o que mais seremos, depois da certeira transição - nos caminhos infinitos e de fato justos da equânime Eternidade?