Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


ROBIN HOOD

Quinta-feira de feriado e afinal me sinto disposta. Afinal não é em qualquer momento que vem a inspiração pra se fazer a resenha de um filme de meu diretor favorito, Ridley Scott, com o acréscimo da dobradinha de meu ator predileto, Russell Crowe!

Que os leitores me perdoem, então, a circunstância de que talvez esta seja uma análise tendenciosa, embora aqui procure ser imparcial, objetivando aqueles dentre vocês que pretendem ver o filme, ou que pensem diferente. Mas é que venho acompanhando sistematicamente os filmes deste diretor inglês. Cinema, a meu ver, é essencialmente altos vôos, criação somada a entretenimento da melhor qualidade, do que talvez discordem aqueles que o admitem somente naquele contexto cultural-intelectualizado que exige da dramaturgia também lições de vida, realismo fidedigno, e vai por aí. Mas, a meu ver, Ridley satisfaz até a estes requisitos!

Nunca supus a história já repisada de Robin Hood apresentada do àngulo histórico que Scott a abordou. Surpreendente de início, para aqueles já habituados à velha cantilena do "fora da lei que rouba dos ricos para dar aos pobres", este novo Robin Hood inova, e revela a história por detrás da história! Mostra o passado de Robin de Locksley, até ao ponto em que se torna um fora-da-lei, com suas causas bem justificadas! Bem típico de Ridley Scott, porque ele já  havia usado esta deliciosa fórmula em filmes épicos grandiosos, como Cruzada.

Desta perspectiva, talvez que para aquelas mentes que esperavam a velha história, por apreciá-la única, exclusiva e antecipadamente, talvez que o começo do filme até a sua metade se torne enfadonho, naquela exibição pródiga de batalhas durante a viagem Cruzada fracassada do rei Ricardo, em cuja comitiva de arqueiros está Robin, e durante a qual o soberano acaba perecendo, em consequência do que é coroado em seu lugar, a contragosto da rainha mãe, seu filho John, o mal afamado rei, historicamente conhecido como "João sem Braço".

"Sem braço" mesmo, e não é para menos, este epíteto! Totalmente despreparado para tomar a frente do governo de um reino dividido em si entre interesseiros e insatisfeitos da carga brutal de extorsão imposta agora pelo rei novo, este John é poltrão e inepto, do início ao fim! Mas não vou expor tudo aqui, agora, em respeito aos que ainda assistirão ao filme, porque é a partir disso que fica selado o próprio destino do herói da fita!

Do ponto de vista do elenco, Ridley prossegue indefectível. Com Cate Blanchett no papel do par romântico de Robin Hood, Lady Marion, perfil feminino maduro, forte e mais talhado ao personagem, escolhido para substituir a atriz anterior que sugeriria talvez um Robin Hood pedófilo querendo pegar uma adolescente, temos, como Robin, de fato o único ator a quem caberia como uma luva o personagem: o astro hollywoodiano do momento, Russell Crowe, um dos melhores das safras das duas últimas décadas! Se bem que seja impossível a quem assistiu Gladiador, do próprio Ridley, e protagonizado por Russell na pele do vigoroso General Maximus, a não identificação da semelhança fulminante de imagem e personalidade entre um e outro personagem, no final das contas isto se torna tolerável, quando, no decorrer das tres horas de filme, a história do herói das florestas de Sherwood desagua imperceptivelmente para outras surpresas e desfechos!
 
É que parece ter sido mesmo impossível evitar a parecença de contexto entre a aliança do Imperador Marco Aurélio com o Maximus de outrora e a amizade instantânea entre este novo Robin com o sogro de Lady Marion, Sir Walter Loxley (Max Von Sydow), de Nottingham, o lugar dominado por um xerife tirano, para onde Robin retorna das Cruzadas com seu pequeno grupo de arqueiros portando o nome falso do Cruzado Robert Loxley, justamente o falecido marido de Marion a quem prometera, em seus últimos momentos de vida, devolver a preciosa espada a seu pai.

Há cenas maravilhosas produzidas durante as noites de Nothingham, ao som das músicas celtas típicas, como a da festa de retorno oferecida a Robin, situado, de caso pensado por Sir Loxley, como o seu falecido filho, Robert Loxley - cheias de danças à luz de fogueiras, ora elétricas, ora bucólicas e românticas, ensejando o princípio de envolvimento entre o casal protagonista da história - um regalo para os amantes dos enredos cheios de encanto e de magia presentes em lendas como as do Rei Arthur!

De resto, o filme de Ridley Scott é grandioso, avassalador, como todo trabalho com a marca registrada do diretor inglês especializado em criar (ou recriar) mundos com perfeição, e atirar para dentro dele suas platéias sem fôlego, chumbadas nos assentos dos cinemas sob os impetuosos efeitos audiovisuais das cenas arrebatadoras das guerras do Império Romano, ou das chuvas massacrantes de flechas nos cenários das Cruzadas ou ainda nas areias das praias inglesas sob a tentativa de invasão da França, como neste fascinante Robin Hood, cujo protagonista nos surge a um só tempo enérgico, honrado, sedutor e algo indolente, com novas vestes, mas dono de uma carismática personalidade!

Uma forma inspiradíssima de se apresentar às novas gerações um velho personagem, ao mesmo tempo em que se engatilha, supostamente, a chance de futuros desdobramentos para a história encantadora do herói das belas, enevoadas e frias florestas do Reino Unido!

Vale - e muito! - o ingresso!

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 03/06/2010
Alterado em 03/06/2010
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