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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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AMOR - A ENSEADA DA ALMA

Li um texto há pouco, n'outro endereço da net. Extenso, truncado, áspero como um tormento, lidando com o tema amoroso sem a mínima leveza e sutileza de espírito que para tal se requer, e buscando provar, a partir de hipóteses rasas, insuficientes, que este supremo sentimento humano, bem como as suas manifestações na vida, são produto de coincidências, de falta de assunto, e - pior! - da superficialidade suicida dos tempos áridos, agônicos que atravessamos no presente século.

Tenho como princípio respeitar opiniões alheias. São milhões pelo mundo. Incontáveis! Como a poeira esfarinhada das estrelas que brilham no infinito. Mas aqui, neste nosso universo humano, existem questões universais. E uma delas, de consenso, é que toda vez que se tenta abordar questões como a natureza do Amor sob a ótica tacanha do intelecto prosaico, ou do materialismo pífio, acontece um desastre semelhante ao se pretender sentir o aroma do mais refinado perfume com a sola do pé. Não dá! É impossível! Explico-me...

É tão absurda a afirmação de que se trata o sentimento amoroso legítimo de um fruto do acaso quanto o esforço fútil de se calar o impulso natural e irresistível do ser humano em busca da verdade maior acerca de si mesmo e da vida com aquela resposta medieval, que conclama a todos pararem de raciocinar porque "estes são mistérios de Deus que não devem ser devassados".

Tolice! Sandice! Porque é a pretexto deste modelo retrógrado de crença cega que se tripudia horrores em cima da boa fé humana, aliciando as massas para um fim que mais não serve do que ao enriquecimento ilícito e às vaidades de poder de alguns poucos. 

O raciocínio mais comezinho nos induz, através da simplicidade do nosso cotidiano, às certezas contra as quais não há argumentos. E os efeitos concretos da sublimidade do Amor são mostras claras.

Amor não é química cerebral nem fluídos corpóreos! O Amor é responsável pelo maior êxtase do espírito humano, e pelas realizações e criações mais sublimes em todas as esferas da vida! É o Amor o móbil do estoicismo legendário daquele jovem que se plantou em frente a um tanque de guerra, num brado desesperado de paz para o mundo; é o Amor a nascente do lirismo róseo da alma, e da flor de lótus da Arte e da Poesia; é ainda o Amor que nos torna todos em anjos tutores daqueles a quem amamos, desde filhos, pais, irmãos, até amigos, amantes, e cônjuges...É o Amor que extingüe dissenções, que restabelece a calma, que dissolve mágoas e ressentimentos; que espalha alento ao sofrimento humano sob o apanágio da compaixão; e que transmuta, por conta disso, sacrifícios em prazer, visando o bem estar do objeto de nosso Amor a qualquer custo, e acima de nós mesmos, e de qualquer coisa! É o Amor, ainda, a fonte da luz diferente no brilho do olhar entre os enamorados; da aura misteriosa, nimbada de luz, de êxtase e de felicidade nos seres tomados por este sentimento excelso; o móbil maior da consolidação da saúde orgânica em correspondência à mental e espiritual; o despertar da visão pertencente a uma dimensão superior da Vida, conferidora da capacidade de nos maravilharmos ao enxergá-la sob a ótica perfeita e bela que lhe é própria, mas que se torna embotada à nossa percepção, quando a confinamos sob o limite tacanho daquilo que o nosso pobre intelecto pode apreender...

Não, amigos! Irrita-me tamanho amesquinhamento e desapreço por esta dádiva inestimável do espírito humano, e  - inconcebível! - tão pouco posta em prática em tempos sombrios e tão precisados da sua Luz única!

Assim, amizades verdadeiras, pautadas naquela melhor afinidade, são exemplos de Amor! Amores verídicos, que nos tiram o fôlego, disparam nossos corações e nos levam a ver uma beleza desmedida em noites tempestuosas de céus trincados de raios, e que nos arrancam do peito dolorido um pedaço na ausência do ser amado, são exemplos dígnos de Amor! A mãe ou pai insones uma, duas, três noites velando o sono do filhinho febril são o retrato fiel da sublimidade do Amor; a batidinha silenciosa no braço, o afago nos cabelos, o e-mail solidário ou o abraço reconfortante naquele nosso afeto que chora um desgosto crucial é mostra tocante de Amor; e Amores que nascem hoje; Amores sedimentados de há séculos; Amores retomados, redivivos após desavenças de muita ou pouca duração, devem ser honrados e respeitados como testemunhos vivos deste mesmo e imperecível Amor!...

Não amesquinhemos, portanto, o que há de mais elevado na nossa natureza humana! Amor não é fruto de "por acaso", ou de algum tipo de caos. Porque caos algum promove a harmonia, a concórdia e as manifestações tão magníficas de paz, bem aventurança e felicidade entre  os seres que o Amor vivenciam!

O Amor vibra numa oitava muito além do que os nossos acanhados sentidos e capacidade intelectiva podem conceber. Não tenhamos, portanto, a pretensão de querer abarcar a extensão do Universo de dentro dos parâmetros infinitesimalmente pobres de uma lupa... 

O amor é a enseada da alma...


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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 21/08/2006
Alterado em 26/09/2006
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