É célebre a passagem da vida de Jesus, quando Ele prediz que, antes que o galo cantasse três vezes, três vezes o apóstolo Pedro o negaria.

Embora o mais marcante da nossa civilização ocidental, e certamente o mais refulgente, Jesus não foi o único Mestre iluminado que nos visitou, revestido da elevada incumbência de auxiliar a Humanidade no seu esforço de avanço consciencial. Outros houve, igualmente nobres. Únicos no desempenho de suas sublimes tarefas de difusão da Luz. Tive o privilégio do contato com a Mensagem de um desses: um esplendoroso clarão ofuscante, a deslumbrar as nossas vistas, e a deleitar o nosso espírito com a profundidade excelsa contida nos seus discursos.

Costumo dizer que Baghwan Shree Rajneesh - mais tarde conhecido como Osho - coroou minha jornada no Caminho. Depois dele, firmei-me seguramente no rumo de volta para casa, para dentro de mim mesma. Se já detinha, de mim, uma tendência anti-ascética, sem conseguir me algemar a nenhuma igreja em função de dogmas ou por obrigação - embora a visão espiritual da vida já dominasse a minha compreensão da divindade e do Universo - o contato com Rajneesh foi o "bingo"! Jamais havia celebrado e experimentado tamanho êxtase com o processo de interiorização, que nos conduz à realidade suprema do Ser em maior intensidade. E é por isso que, sem deixar para depois o que já me incomoda faz tempo, preciso registrar por escrito meu testemunho, por amor do esclarecimento de um de alguns dos mal entendidos, que cercaram a polêmica engenhosamente urdida contra este amoroso Mestre da paz.

Com o decorrer dos anos, observei com pesar que, em muitas vertentes, havia uma tendência em se tomar a conduta dos sannyasins, e suas iniciativas próprias - e de sua exclusiva responsabilidade - como pretexto para se imputar certas acusações e culpas graves ao Mestre. Ledo e covarde engano! Necessário se faz falar claramente a respeito. Porque a distorção proposital provocada por interesses investidos e enraizados, principalmente, nos Estados Unidos - que se tomou de horror com uma mensagem primordialmente anti-imperialista, que derrubava por terra todos os seus mais arraigados interesses econômicos - distorceu, na cabeça de muitos, quem foi Osho, e do que, de fato , se constituiu a sua mensagem ao mundo.

Não seria preciso que se falasse, para tanto que basta a leitura de qualquer dos seus muitos livros de discursos à venda nas livrarias (vide A Harmonia Oculta, A Arte de Morrer, O Cipreste no Jardim, O Caminho das Nuvens Brancas) para uma constatação pessoal e isenta por parte dos interessados, se despojados de idéias pré-concebidas. Mas, particularmente, cabe-me discorrer sobre o assunto, primeiro como sannyasin - para não incorrer na negação do Mestre "antes que o galo cante três vezes"; segundo, por já ter eu mesma sido alvo de incompreensões neste sentido.

Certa vez, num site do qual não me recordo agora o nome, em meio a um chat que funcionava à semelhança do STUM - com abertura de participação a todas as vertentes do Caminho - conversava animadamente com alguém simpatizante dos discursos de Rajneesh, quando um terceiro interveio subitamente, e daí se armou uma confusão. O indivíduo discorreu com tanta agressividade sobre a sua visão polêmica - e parcial - do assunto, que não houve como expor com acerto um esclarecimento sobre o que ele aludia, e que, com o decorrer dos anos, virou o "trunfo" de todos os que querem atacar a mensagem de Rajneesh como contraditória.

Refiro-me ao célebre caso das limusines, quando, com intenção bem definida a respeito da exemplificação do desapego, Osho desfilou num cortejo destes carros, com sannyasins cantando e dançando ao seu redor. Os maliciosos e interessados no desvirtuamento da sua mensagem logo o atacaram implacavelmente, por contradição: "como pode um Mestre que se diz portador de uma mensagem de amor e de desapego, de avanço consciencial, sair por aí numa ostentação tão escandalosa de detenção de riqueza?! Osho caiu!" E, até à ira, como este indivíduo a quem aludi acima, há quem quase se engalfinhe, encolerizado, com quem afirme o contrário.

A pergunta que fica é se Osho seria assim, tão ingênuo, sabendo-se, como se sabia, alvo dos poderes estabelecidos americanos. Fica claro, contudo, para quem conhece a fundo a sua mensagem (e se não conheço todos os seus discursos, certamente li e ouvi a maior parte deles!) que a sua intenção, ali, era óbvia! Podemos ser desapegados até mesmo quando mergulhados na riqueza; detentores de mansões, cem limusines, barcos, ou de milhões de euros, seremos absolutamente impassíveis, e brincaremos alegremente com isso tudo, sem permitir que nos dominem - exatamente o que ele fez naquele desfile! - se já tivermos voltado para "casa", de onde não há retorno possível! Se já habitarmos, devidamente, o nosso Ser verdadeiro, realizando, à luz do dia, a divindade que reside, eqüânime, no imo de todos nós!

Prova disso é que já presenciei as duas contradições à farta, nesse meu estágio material - ricos de coração de ouro, espargindo, em abundância, amor e generosidade à sua volta, e pobres que, a despeito da situação de miséria crônica, de dentro da qual se vêem necessitados superlativamente de auxílio, não possuem um raio sequer de calor humano para oferecerem a quem quer que seja, apegando-se às poucas migalhas que possuem, e deixando à míngua, é bem possível, a própria mãe! Assim como também pobres, de alma banhada de luz, dividindo com todos o pouco que possuem, e ricos usurários, cuja ambição jamais será satisfeita, como um poço sem fundo, insaciável, que traga tudo o que o poder de compra permite até desaguar no vazio, que, no mais das vezes, leva muitos à loucura do suicídio.

Tudo isso demonstra apenas que a essência desta questão é o apego ou o desapego. Osho não "caiu" - absolutamente! Osho exemplificou - como o fez todo Mestre plenamente consciente que deixou neste mundo obscuro o seu rastro de Luz - com a própria vida, a cada minuto deliciosamente compartilhado com aqueles que tiveram o altíssimo privilégio de "se abrirem" para a sua mensagem e as realidades glorificadas da essência das nossas vidas, unificadas ao próprio néctar do Universo, de onde jamais estivemos dissociados! Osho uniu todos os que se mostraram acessíveis - os que deram, corajosamente, o "salto quântico" da morte para a vida verdadeira - ainda aqui - na realidade mesma do Amor presente no Todo, refletido na divindade adormecida no íntimo de cada um!

Osho não "caiu". Tentaram, inutilmente, derrubá-lo, como sempre fizeram com todo grande Mestre presente na sofrida História da nossa humanidade, em decorrência de lastimável incompreensão para com a profundidade inerente à sua Mensagem e às suas atitudes, e em nome de cegueira material e de interesses de ordem mesquinha que - contudo - um dia inevitavelmente serão ruínas, na renovação draconiana dos dias, como as que existem hoje dos pobres impérios do passado tornados em pó, expostos à indiferença das populações numerosas que seguem no curso inexorável do seu destino.

Não falar sobre isso seria negar o Mestre antes que o galo cantasse três vezes. Na eterna Unidade Maior, a mensagem de Osho refulge, intocada, e preservada para todas as gerações preparadas para entender.

Em 11/12/2009