PRESENÇA
Imaginei, queda em malsã dormência,
a sua vil, tosca não existência
e o malvado estado de carência
e a dor , a mortal tua ausência...
E o abismo de mim mal tragado
e o nada, um mundo naufragado
tão vazio, louco, esfacelado,
neste mudo, abismal eu, finado...
E depois gargalhei, tola e tensa:
e onde está, pois, esta tal presença?
Este alvo da tua bem-querença
e da tua obcecada doença?!
Acontece, sim, meu leitor pio
que se rio, ou se suo de frio,
padecendo, morta, neste estio,
estiolada de sono e enfastio...
ou se busco do mundo a vã festa,
ou se venho tapando a aresta;
é o que cabe na vida, é o que resta,
e o que a sobra de fôlego atesta!
Ah, insano ser, minha dupla imagem!
Tu projetas a minha miragem!
Quando estive... tu só de passagem...
Quando estás, não sou mais que a voragem...
Com amor,
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS. PROIBIDA A REPRODUÇÃO, CÓPIA OU PUBLICAÇÃO SEM A AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DA AUTORA.