O PODER NA VISÃO DA CRIANÇA
Ainda agora almoçava com a minha filha de oito anos tendo diante de nós a tv ligada no Jornal Hoje, na Globo. Naquele momento assistíamos à monumental parafernália de povo, segurança reforçada, barulho e tumulto que hoje, neste histórico vinte de janeiro de 2009, acontece em Washington quando, de inopino, Clarinha me pergunta: - Que é isto aí, mamãe? Ao que lhe explico que se trata das celebrações da posse do novo presidente dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo. E, meio desconcertada sobre como explicar-lhe com a devida clareza o que é ser o presidente dos Estados Unidos e as razões de todo o frenesi que acontece no planeta por conta disso, gastei uns momentos a mais tentando elucidá-la sobre a complicada questão para a sua pouca idade. Mas ela se deteve no detalhe "país mais poderoso do mundo". E eis que me pergunta, na tocante inocência, magnífica, sábia, cristalina da idade: - Mais poderosos por quê?! Porque eles não dão nenhum tiro?! Demorei-me breve instante estatelada de pasmo, olhando sua fisionomiazinha franca, focada, desanuviada, olhando as imagens na tv enquanto almoçava. Depois, tive que deitar a maçã envenenada da serpente - do maldito conhecimento que deve de fato, e no início, ter desencadeado tanto tudo o que há de bom quanto, em medida maior, o que não presta ao longo de toda a história da humanidade: - Não, meu amor, não é bem isso... - e sorria, meio chocada - São mais poderosos porque têm o exército mais poderoso e mais dinheiro do que todos. Mas eles dominam pela força. Não dar tiros - deveria ser assim, não? Mas isso, eles ainda estão aprendendo!... Baixei o olhar pensativo para o prato, continuamos ouvindo as notícias desfilando a mão cheia no noticiário sobre o acontecimento histórico. Não tive vontade de explicar mais nada. Afinal, achei que minha filha, com a pureza daquele comentário, tem, talvez, muito mais a me dizer do que eu, sobre as razões e as velhas fórmulas fracassadas vigentes até hoje no mundo. "Mais poderosos porque não dão nenhum tiro". De fato. É a verdadeira, respeitável e mais honorável expressão do poder. Porém, num mundo sábio; num mundo verdadeiramente justo! E ainda precisamos nos fazer por merecer este mundo! Carinho a todos. Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 20/01/2009
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