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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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BEZERRA DE MENEZES - O DIÁRIO DE UM ESPÍRITO

Não quero aqui ater-me apenas ao filme; por melhor fosse a produção, não se pode confinar Bezerra de Menezes, Espírito - grande vulto histórico brasileiro no âmbito da política e do exercício da Medicina, diretor das nossas falanges médicas do espaço, e, acima de tudo, ser humano, na sua melhor e mais depurada acepção! - na expressão exígua de duas horas de uma fita cinematográfica!

Quando lançaram o filme Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito, acessei o fórum do Globo Online e apus minha  opinião, antes mesmo de tê-lo assistido: "uma iniciativa heróica e antecipadamente bem sucedida, em tempos de tanta frivolidade, banalidades e exaltação crassa de inversão de valores nocivos, enaltecidos, aplaudidos e divulgados maciçamente pela mídia interessada apenas em custo - benefícios, acima da qualidade do que se apresenta ao público".

Em breve e oportuna digressão, há quem defenda tal postura nos meios de comunicação de massa alegando que se assim agem é para atender ao gosto popular. Jogam, pois, a culpa da mediocridade reinante nas expressões das artes no povo, atribuindo-a a um reflexo da mentalidade das pessoas em sua maioria - como se a mentalidade de um povo não fosse constituída, em essência, e em grande parte, pelo fruto do trabalho exaustivo dos formadores de opinião, no sentido de hipnotizar as massas num direcionamento chulo de gostos e de valores!
 
Imaginem desta feita, pois, se nunca se houvesse oferecido ao paladar humano o sabor do chocolate, se seria lícito que dele se ressentissem da falta! Que nunca se tivesse exibido exaustivamente, portanto, em programas, novelas, no cinema, em livros e revistas de banalidades o sabor deprimente das emoções nocivas que até o tempo presente avassalam a humanidade, e então veríamos se nos ressentiríamos da falta desta avalanche tétrica de maus exemplos e de emoções torpes, que inundam hoje grande fatia das expressões artísticas!

Viciou-se, pois, a psiquê humana com este gênero baixo de imagens e de expressões; o campo emocional dos povos vê-se saturado das imagens refletidas, nas artes e no jornalismo, do que se lhes constituí, ainda, o espectro lamentável das suas misérias íntimas e sociais - constituindo-se tal divulgação maciça quase que numa apologia da manutenção deste estado crítico de coisas, ao alegar-se, perfidamente, que "a divulgação dos bons acontecimentos diários não dá ibope"!

Cria-se, pois, o monstro, e depois atribui-se-lhe culpa da sua própria monstruosidade - eis a triste realidade de hoje em dia!

E é por isso que, retornando ao que aqui nos interessa, o filme Bezerra de Menezes, como não poderia deixar de ser, e para a surpresa de muitos, ainda ontem, praticamente lotou a sala 4 do Shopping Iguatemi! Efetivamente, a fila saía do saguão dos cinemas para a área interna do Shopping - prova viva de que o povo, - sim!, - é dotado da sensibilidade mais depurada para as boas coisas, e para os trabalhos de qualidade na área artística, que comparecem para lhe reverenciar e respeitar dignidade e sensibilidade!
 
De fato, já faz tempo que ouço comentários inúmeros vindos de pessoas que, em já se vendo saturadas dos cenários e acontecimentos lastimáveis presentes de si no dia-a-dia das cidades, se confessam exaustas, profundamente desejosas de um respiradouro; de uma janela que seja, aberta para a renovação dos ares! Não é de hoje, sem embargo, que chovem alusões de gente que já não aguenta mais, nem mesmo, ligar o televisor à noite para assistir aos vários telejornalismos que mais se assemelham a banhos de sangue! A novelas repletas de exemplos os mais torpes de conduta, desvirtuando valores que, longe de constituirem pieguismo ou carolice de moralistas de plantão, representam, antes, tudo aquilo que ainda é de molde a dignificar o ser humano como tal, e, - se resgatados a tempo! -, a chance de salvação desta nossa civilização caída, refém das malhas escuras da violência e dos brilhos dos avanços tecnológicos insuficientes para içar-nos das nossas milenares, misérrimas desventuras!

Bezerra de Menezes, o Diário de Um Espírito é, portanto, muito mais do que este título nos deixa entrever. Eu, espírita desde a adolescência, escritora na área, desconhecia em minúcias os lances grandiosos da sua história de vida: a tendência humanitária precoce; a luta contra a escravidão, cunhando-o talvez que num dos mais brilhantes e empenhados abolicionistas do seu tempo; seu total despojamento no atendimento desinteressado aos necessitados, enfim - sua presença espiritual de altíssima estatura entre nós, nos primórdios da existência da Codificação de Kardec em terras brasileiras!... O ter sido excomungado por seus familiares; escarnecido por materialistas da época, tenazes - todavia falhos através da sua apologia de descrença e ceticismo ferrenho, cego, absoluto..., impotentes em oferecer ao ser humano o lume da felicidade e da esperança, por entre os sofrimentos agudos existentes nas trajetórias de muitos!

Adolpho Bezerra de Menezes, caros, foi muito mais do que o médico dos pobres! Como nos ilustra o filme com beleza ímpar, foi ele o irmão, o médico da alma: que abraça a medicina sem restrições de horários, de interesses pessoais ou financeiros; que se dedicou ao seu ofício acima mesmo das limitações inerentes a todo o ser humano - dando de si até ao sacrifício próprio, oferecendo alento, cura, aconchego e reconforto... que abraçou também, profundamente familirizado com seus postulados, a Doutrina dos Espíritos, em sendo um exemplo vivo, em tempos recentes, daquele amor ao próximo... Amor fora do qual, já nos dizia o Mestre Jesus, não haverá salvação, nem há dois mil anos, nem hoje, e nem nas épocas vindouras, em quaisquer recantos do Universo!

De minha parte, declaro ter estado, indubitavelmente, na presença de intenso jorro de luz, ontem, dentre aquelas quatro paredes de cinema! Se já era profundamente grata ao Médico sublime que tanto me tem valido, infalívelmente, nos eventuais momentos de angústia, comuns a todos que se vêem em jornada transitória neste mundo corpóreo, naqueles instantes em que nos molestam os contratempos da saúde física - com os cuidados inconfundíveis quanto surpreendentes de sua falange médica de Luz dos espaços invisíveis - hoje, depois deste contato mais íntimo com a sua história de vida, só posso externar meu insuficiente e renovado obrigada, Dr. Bezerra de Menezes!, em termos verbais sempre incompletos para expressar verdadeiramente gratidão à grandiosidade do que, na sua postura bondosa, paternal, simples, vem desempenhando por todos nós este que está entre os Maiores da Espiritualidade atuante sobre a pátria brasileira! 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 07/09/2008
Alterado em 08/09/2008
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