O DIFÍCIL "NÃO JULGAR"...
As implicações positivas ou negativas do nosso julgamento acerca de acontecimentos, coisas e pessoas, para o melhor ou para o pior, são tão entranhadas no nosso cotidiano que torna-se tarefa complicada manter-se consciente e alerta, durante todo o tempo, a fim de resguardar-se o suficiente das armadilhas das injustiças clamorosas que podemos vir a perpetrar por conta disso.
Noutro dia, num simples bate-papo na hora do almoço, ofereceu-se situação propícia a uma reflexão útil sobre o assunto. Falava-se sobre lances cotidianos e delicados de convivência num ambiente de trabalho, e alguém discorria sobre o muito disseminado - porém péssimo - hábito de se "dedurar" e se "puxar o tapete" dos colegas com vistas à promoção própria, e sobre o grave problema ético que isto envolve. Para surpresa de alguns, uma pessoa responsabilizada por um cargo de direção discordou. Alegou uma provável aplicação de metodologia das relações humanas, defendendo que "quem se encontra na condução de um trem precisa saber, de algum modo, quando algum carro descarrila mais para trás, para uma boa condução do veículo, e para a solução dos problemas", sugerindo com isso, portanto, que a alguém cabe avisar. Particularmente, julguei o argumento oportuno - naquele momento; mas logo após veio-me, espontânea, a reflexão. Será que o carro do trem descarrila por si próprio, ou houve sabotagem, na intenção subreptícia de se prejudicar alguém? Ou se a alguém cabe a responsabilidade por aquilo, até que ponto lhe cabe mesmo tanta responsabilidade - e não a outrem, de quem talvez se esperasse um melhor serviço de manutenção das engrenagens, não satisfatóriamente realizado? Efetivamente, seres humanos não podem ser equiparados a maquinaria fria; elementos outros contam: elementos humanos. Valores, sentimentos, formação educacional, cultural, e de caráter. Contextos de interação nas convivências, e de recursos, nos ambientes profissionais. Aos líderes em qualquer situação, portanto, cabe indispensável critério em ocasiões de julgamento das atitudes alheias, sob o risco de, em caso contrário, perpretarem clamorosas injustiças, sob o pretexto do zelo pelo bom andamento das atribuições sob as suas responsabilidades. De tais exemplos se infere a oportunidade do antigo, mas sempre propício ensinamento do Mestre da Galiléia. No uso do nosso livre arbítrio no cotidiano já nos é mostrado de sobejo a impropriedade do julgamento das atitudes dos que nos cercam, visto como é falho nos basearmos apenas no nosso ponto de vista para sentenciar acerca de qualquer situação. Mas, em casos em que as contingências naturais da vida nos colocam sob o guante inevitável deste contexto, em nos conferindo a atribuição da liderança na posição de autoridade, dobrada prudência é necessária, na apuração devida dos acontecimentos, principalmente em situações de acusações contra o próximo. Imprescindível a ponderação do fato sob o ponto de vista de todos os envolvidos, para se avaliar, a partir disso, com maior justeza. Não basta lançar um chavão sonoro na formação das mentalidades das pessoas designadas para a responsabilidade da chefia. Na experiência profissional, facêta da vida indispensável ao nosso crescimento, em igualdade de importância com as lições adquiridas na convivência familiar e social, torna-se vital o bom senso, quando temos sob as nossas diretrizes as vidas de outras pessoas, e o rumo de seus destinos, em qualquer contexto cotidiano que se apresente. Imprescindível a humildade perante as nossas subidas chances de avaliação incorreta. Imperativo o saber reconhecer os nossos erros de julgamento, para pontuar com maior margem de acerto os possíveis enganos de outrem, e, a partir disso, adquirir a rara grandeza interior para saber recuar em decisões inexatas, com o preciso pedido de desculpas aos possíveis lesados por prejuízos derivados das falhas das nossas decisões. Já um antigo ditado da antigüidade afiançava esplendidamente que "o verdeiro líder é aquele que, antes de tudo, aprendeu com perfeição a obedecer". Interpretemos corretamente, entendendo também este "obedecer" como obedecer à sensatez, às claridades do espírito e do discernimento de que todos estamos sujeitos a equívocos, em eterna jornada de aprendizado para todos, seja qual for a situação social, familiar ou profissional na qual estejamos inseridos. Como bem lá se diz nas lides trabalhistas do dia-a-dia, ninguém "é" nada definitivamente: sejam diretores, inspetores, coordenadores, supervisores, funcionários em qualquer situação. Nós apenas "estamos" de um certo modo, num determinado momento. Mantenhamos sempre a visão clara de que, em última instância, Deus dá e Deus tira na hora em que Lhe aprouver - e que apenas a Ele cabe, então, o julgamento fidedígno de todas as coisas. Com amor,
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 23/02/2006
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