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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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CONSIDERAÇÕES SOBRE RAMATÍS

 

Existe uma polêmica em torno das obras de Ramatís. Sobretudo em decorrência das contradições havidas na obra de maior impacto deste Espírito, psicografada pelo médium paranaense Hercílio Maes,"Mensagens do Astral", de conteúdo essencialmente profético, fazendo menção a vários acontecimentos que deveriam ter se confirmado até o final da última década do século passado, no ano 2000 - ano que, em várias vertentes esotéricas, foi referência para previsões catastróficas bem ao gosto Hollywoodiano, todavia não confirmadas; ao menos em sua esmagadora maioria.

 

Lembro-me de ter entrado em polvorosa ao ler este livro. Já naquela fase bem jovem da vida, em sendo uma apreciadora das obras deste Espírito de procedência oriental terrena, fascinavam-me as suas alusões, à primeira vista irrefutáveis, às conseqüências funestas dos desgovernos da humanidade - aliás em voga até hoje - engrossadas pelos efeitos da aproximação do legendário astro intruso da atmosfera da Terra, cujo magnetismo vibratório nefasto desencadearia catástrofes inomináveis de resultados agravados pela tragédia de uma provável guerra nuclear a ser deflagrada até a época do fatídico ano apocalíptico.

 

Hoje, como se observa nos meios esotéricos e espiritualistas afeitos a essas previsões, baseadas sobretudo nas conhecidas profecias Maias, este ano foi empurrado mais para frente - 2012. Mas quero me ater aqui à percepção, ratificada sobretudo pelas minhas vivências, acerca do conteúdo das obras do espírito de Ramatís que, nada obstante todas as polêmicas, a meu ver não merecem ser excomungadas na sua totalidade.

 

Ramatís é tido por alguns como espírito arrogante, segundo a classificação estabelecida na Codificação do patrono maior do Espiritismo, Allan Kardec. Isto por asseverar premissas questionáveis numa de suas obras a respeito de Jesus (O Sublime Peregrino) e por ter errado clamorosamente nessas previsões de fundo apocalíptico, nesta sua mais controversa obra. Todavia, sem querer deter a verdade final sobre o assunto, e guardando o devido respeito às considerações dos confrades indiscutivelmente lúcidos e esclarecidos nas suas linhas de raciocínios, desejaria oferecer argumento oportuno ao que norteia a tendência excludente da totalidade do trabalho de um espírito que, se por intermédio de seu canal terreno não foi feliz n'algumas de suas menções, n'outros esforços, todavia - e realçando-se a característica muitas vezes falha da intermediação mediúnica - n'outros, contudo, produziu livros cujo conteúdo é de uma beleza e utilidade indiscutíveis!

 

Faz algum tempo, recebi de um confrade importante documento, reproduzindo *entrevista realizada com a autoridade incontestável do nosso saudoso Chico Xavier e seu Instrutor Emmanuel justo sobre o assunto em questão, cujo excerto reproduzo, a benefício de esclarecimento e enriquecimento desta dissertação:

 

"Logo que apareceram as primeiras publicações da "Conexão de Profecias" (Hoje com o título Mensagens do Astral), de Ramatis, fomos a Pedro Leopoldo, a fim de ouvir a palavra autorizada de Emmanuel, através daquele aparelho maravilhoso que é Francisco Cândido Xavier. Isto, porque o que era dito pelo espírito de Ramatis, parecia-nos perfeitamente lógico. Mas, como constituía novidade, não queríamos aceitar de pronto algo que não passasse pelo crivo de várias manifestações mediúnicas, através de diversos aparelhos. Desta forma, munidos do aparelho de gravação em fita, fomos atendidos gentilmente pelo médium, que respondeu às perguntas que fazíamos, repetindo as palavras da resposta, que eram ditadas por Emmanuel. A gravação foi feita no dia 5 de janeiro de 1954. Conservamos até hoje o rolo gravado em nosso poder. Passamos a estampar as perguntas e respectivas respostas:

 

Pergunta: - Que pode o irmão dizer-nos a respeito do astro que se avizinha, segundo a predição de Ramatis?

Chico Xavier: - Esclarece nosso orientador espiritual que o assunto alusivo à aproximação de um Planeta ou de Planetas, da zona - ou melhor da aura da Terra - deve, naturalmente, basear-se em estudos científicos, que possam saciar a curiosidade construtiva das novas gerações renascentes no mundo. O problema, desse modo, envolve acurados exames, com a colaboração da ciência e da observação de nossos dias. Razão por que pede ele que não nos detenhamos na expressão física dos acontecimentos que se vizinham, para marcar maiores acontecimentos - acontecimentos esses de natureza espetacular - na transformação do plano em que estamos estagiando, no presente século. Afirma nosso amigo que o progresso da óptica e das ciências matemáticas, serão portadoras, naturalmente, de ilações, conclusões da mais alta importância para os nossos destinos, no futuro próximo.

 

(...)Os termos da comunicação obtida em Curitiba (a "Conexão de Profecias", de Ramatis) são de admirável conteúdo para a nossa inteligência, de vez que, realmente, todos os fatos alusivos à evolução da Terra, e referentes a todos os eventos, que se relacionam com a nossa peregrinação para a vida mais alta, estão naturalmente planificados, por aqueles ministros de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, de acordo com Ele, estabelecem programas de ação para a coletividade planetária, de modo a facilitar-lhe os vôos para a divina ascensão. Embora, porém, esta mensagem, por isso mesmo, seja digna de nosso melhor apreço, contudo, na experiência de companheiro mais velho, recomenda-nos nosso Orientador Espiritual (Emmanuel) um interesse mais efetivo, para a fixação de valores morais em nossa personalidade terrena, de conformidade com os padrões estabelecidos no Evangelho de nosso Divino Mestre. Porque, para nossa inteligência, os fenômenos renovadores da existência que nos cercam têm qualquer coisa de sensacional, de surpreendente, nosso coração de inclinar-se, humilde, diante da Majestade do Senhor, que nos concede tantas oportunidades de trabalho, em nós mesmos, a revelação dos grandes acontecimentos porvindouros; novo soerguimento íntimo, novo modo de ser, a fim de que estejamos realmente habilitados a enfrentar valorosamente as lutas que se avizinham de nós, e preparados para desfrutar a Nova Era que, qual bonança depois da tempestade, facilitará nossos círculos evolutivos(...)

 

Pergunta: - Acha nosso irmão que a Mensagem de Ramatis deva ser divulgada com amplitude?

Chico Xavier: - Diz nosso Orientador que a Mensagem é de elevado teor... E todo trabalho organizado com o respeito, com o carinho e com a dignidade, dentro dos quais essa Mensagem se apresenta, merece a nossa mais ampla consideração, de vez que todos nós, em todos os setores, somos estudiosos, que devemos permutar as nossas experiências e as nossas conclusões para a assimilação do progresso, com mais facilidade em favor de nós mesmos."

 

Como exposto, e comungando em essência com o que aludem as almas de escol de cujas palavras me valho com o fim de maior reflexão e elucidação do tema, gostaria de acrescentar que, se sob a ótica do bom senso com acerto preconizada pelo Codificador devemos guardar cautela com as comunicações da Espiritualidade que sempre se fez presente na atuação de tantos confrades na seara, de outro, a legenda do "rejeitar mil verdades antes de se acolher uma só mentira" não deveria justificar um rigorismo de molde a se descartar o que de muito valioso nos foi legado pelo trabalho interdimensões de espíritos que, em última análise, são ainda todos imperfeitos, em jornada constante rumo ao aperfeiçoamento que lhes burile justo estas falhas de avaliação e de considerações a respeito dos mecanismos maiores de funcionamento do Universo cujo alcance, por ora, é-nos a todos, ainda e sempre, unifacetado.

 

De resto, uma obra como O Evangelho à Luz do Cosmos, de conteúdo sublime que nos remete à necessidade sempre oportuna do acerto dos passos na direção do roteiro glorioso outrora legado pelo próprio Mestre da cristandade – tomando em suas primeiras páginas, de todas as vertentes religiosas conhecidas, para apresentação a máxima, a legenda universal Ama ao próximo como a ti mesmo; não faças ao teu próximo o que não queres para ti” – não haverá de ser, sob nenhum pretexto sensato, desconsiderada em sua valiosa utilidade, em decorrência dos erros passíveis de qualquer grande produção de ordem mediúnica, assim como não se faria lógico que fôssemos, nós mesmos, descartados pelo Criador em nosso vasto percurso evolutivo, na totalidade dos nossos seres, pelas nossas falhas grandes ou pequenas de caminho, precisadas, antes, de reajuste e de reparo, tendo em conta que jamais os nossos acertos e crescimento perderão em importância para os enganos nada mais que transitórios da trajetória infinita.

 

* Publicada pela Revista Boa Vontade, Ano 1, nº 4 - Outubro de 1956.

 

 

 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 02/08/2008
Alterado em 20/03/2013
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