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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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PRÍNCIPE CÁSPIAN (Crônicas de Nárnia 2)

Nas duas vezes em que vi Crônicas de Nárnia - primeiro e segundo episódios; este último, Príncipe Cáspian, desde a semana passada no circuito nacional de cinemas - tive a vontade roxa de me atirar para dentro daquele mundo fantástico com meus filhos, minha família, e ir ficando por lá mesmo!

Pudera: um lugar onde os homens, a natureza e seus animais e seres fantásticos se interelacionam em perfeita harmonia! Seus defensores - os da coexistência pacífica entre os humanos e o reino natural em toda a sua magnificência! - sempre se dão bem! De fato, subliminarmente é notório que os matadores de árvores, os que desrespeitam as obras monumentais da Criação com sua rica biodiversidade através de ganância e crueldade em nome das mesquinharias do poder, são sempre destronados pelos reis de Nárnia: no caso, quatro crianças que, através de uma espécie de portal dimensional cujas entradas misteriosas podem se ocultar tanto num armário velho quanto numa estação de trens da década de quarenta, fazem a passagem deste nosso mundo turbulento para lá sempre que se faz necessário, e com a facilidade de um simples respirar - ou de um abrir e fechar de olhos entre a noite, a madrugada acolhedora dos sonhos, e o amanhecer!

Em Nárnia, Peter, Edward, Lucy e Susana são reis de direito, segundo uma profecia antiga daquele reino. São atraídos para lá pelo canal puro da inocência da criança mais nova, Lucy - a primeira que aporta neste mundo fantástico e desconhecido dos homens a não ser nos contos de fadas; a primeira que se deslumbra, se encanta com os seus seres, e que de pronto com eles trava amizade.
 
No primeiro episódio, portanto - O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupas - a partir de seu primeiro encontro com Mr. Tumnus, o fauno bom e amável que a protege e acolhe em sua visita, começa a se cumprir a profecia secular, de há muito aguardada a fim de que os seres de Nárnia vençam o encantamento nefasto da Feiticeira, responsável pelo sofrimento do inverno eterno, da ausência do Natal e do exílio do verdadeiro rei, Aslam - o fascinante, sábio e poderoso Leão falante.
 
A profecia diz que a visita de dois filhos de Adão e duas filhas de Eva darão um fim aos tempos de horror imposto pela feiticeira gelada que, de resto, submete todos os que se recusam a servi-la a um congelamento eterno, no uso dos seus poderes maléficos; pois são eles, junto a Aslam, os reis de direito do mundo de Nárnia - sugerindo a junção e a soberania harmônica possíveis entre o reinado humano e o natural, quando assim interagem em prol da Vida em todas as suas manifestações!

Em Príncipe Caspian a saga continua. Mil e trezentos anos depois - pela contagem de tempo narniana,  já que para os quatro protagonistas apenas alguns anos decorreram, de modo que Lucy ainda é apenas uma criança um  pouco mais velha - um reinado de horror, humano, é instaurado, depondo a paz e a harmonia da Nárnia de séculos antes. Um rei despótico quer eliminar o seu sobrinho e único herdeiro de então - Cáspian, pacífico e defensor da co-existência harmônica entre seu povo e os narnianos - a fim de garantir o trono apenas ao filho recém nascido. Às ocultas, vem dizimando silenciosamente os animais falantes, os faunos e centauros, todos aqueles legendários seres encantadores, visando atingir sua finalidade espúria.

Mas há resistência, mesmo em seu castelo. E Cáspian, com o auxílio de seu velho professor, alcança a fuga e, fazendo uso de uma trompa mágica, reconvoca os quatro Pevensie para auxiliá-lo a restabelecer a ordem, a felicidade e a paz. 

É assim que os quatro irmãos são subitamente atraídos de volta àquele reino encantado, quando menos esperam, a partir de uma estação de trem de Londres - indo aportar inicialmente numa praia paradisíaca que já nos começa a atirar para dentro daquela dimensão fabulosa de C. S. Lewis!

Lá, eufóricos, novamente se unem a anões, a animaizinhos falantes da resistência de Nárnia; a centauros, faunos e minotauros, a árvores dotadas de estranha quanto bela forma móbil de vida; aos poderes vivos das plantas e das águas... e a Aslam! - para a fabulosa, arrebatadora, fascinante batalha final - ao fim da qual, lógico, as forças benéficas da Criação saem vencedoras ainda uma vez, naquele mundo mágico! Naquele reino que bem queríamos que fosse o nosso, com os poderes em prol de tudo o que é Natureza, do que é Vida, definitivamente triunfantes!

Ao fim do filme e de quase três horas que nem sentimos passar, após as quais nos levantamos das cadeiras do cinema com relutância, despencando no nosso pretenso reino real, minha filha pequena, mal acaba o efeito do encantamento, me pergunta, ansiosa:

- Mamãe! Quando poderemos ir lá, em Nárnia?! O papai nos leva?!!

E quem disse que tenho a coragem - logo eu, se bobear a mais entusiástica fã de Nárnia de todos, que nem escondo a minha própria vontade de ir parar lá n'algum momento - de desfazer na minha criança o efeito benéfico da magia?!
 
Porque olho seus olhinhos e vejo o brilho, o puro e entusiasmado fascínio diante da imagem de Aslam, daquele rei sábio e nobre, como provavelmente poucos ou nenhum o tivemos no nosso turbulento reino humano!
 
E respondo, enquanto saímos, metade divagando, n'outra metade - contudo! - com sinceridade... mesmo cônscia de que, por ora, tal façanha só será possível por intermédio da continuação da saga, no terceiro filme que na certa há de vir, ao que tudo indica; porque afinal já estudei a Teosofia e outros mistérios e já descobri que - sim! - os centauros, as fadas e faunos e elfos existem! N'outras dimensões invisíveis do Cosmos, n'outros padrões vibratórios da Criação bondosa e incomensurável de Deus!

- Quem sabe, filhinha?! Um dia... Certamente um dia!...
   

(The Chronicles of Narnia - Prince Caspian - USA - 2008)
Direção de Andrew Adamson
Elenco: Georgie Henley (Lucy Pevensie); Skander Keines (Edmund Pevensie); William Moseley (Peter Pevensie); Anna Popplewell (Susan Pevensie); Ben Barnes (Príncipe Caspian); Liam Neeson (Aslam)
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 07/06/2008
Alterado em 08/06/2008
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