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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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REFLEXÕES SOBRE SPAMs, TELEMARKETING E CHATEAÇÕES SIMILARES...

Que se passa?!...

Esta semana houve uma comoção internacional por conta da problemática de invasão territorial promovida pela Colômbia. E agora, aparentemente sem mais nem aquela, enxergo similares disso em escala proporcional no nosso cotidiano, em razão do que não posso me furtar à reflexão sobre o assunto.

Sempre me posicionei de maneira radical contra o que considero intolerável invasão de privacidade promovida pelas práticas em voga hoje em dia, que abarcam desde aqueles insuportáveis telefonemas de serviço de telemarketing, de gente à qual jamais e em tempo algum ofereci meus telefones, até a enxurrada de spams recebidos via e-mail de origens igualmente obscuras das profundezas da internet, para as quais, do mesmo modo, também nunca ofereci voluntariamente acesso aos meus endereços de correspondência virtual. Abomino tudo isso desde o tempo relativamente recente em que principiaram a nos infernizar, como moscas varejeiras, o nosso dia-a-dia, e com tal insistência, que quase que já passa para a maioria tristemente hipnotizada por lugar comum - um aborrecimento a mais entre tantos que, alguém há de aludir com certa razão, nem é o mais grave dentre tantos!

Só que são estas pequenas miudezas exasperantes que somam um montante representativo do grau de automatismo consumista a que chegou a nossa civilização de máquinas, na qual o homem, ser humano, e sua dignidade e seu direito inviolável à privacidade, diluiram-se, desconsiderados quase que completamente perante os interesses vultosos da economia e respectiva competitividade selvagem a eles atrelada.

Conseqüentemente, esqueceu-se, por conveniência, que a invasão de privacidade não é caracterizada apenas nos moldes das realidades antigas - mas segundo todo o repertório atual de apelo consumista que, e segundo os seus parâmetros, justifica a homérica chateação que representa em grande medida atender a um simples telefonema hoje em dia, bem como gastar um tempo enorme diante do pc deletando aquela chuva de mensagens não solicitadas, segundo constava na minha caixa de entrada no último acesso, anunciando uma tal de “dança do hipopótamo”!...

Não existe coisa pior, caros, do que se estar debaixo da água de um chuveiro, toda ensaboada, e, em correndo para atender um telefone tocando insistentemente na sala, na dúvida sobre a possibilidade de alguma chamada importante, deparar com aquela vozinha irritante e ensaiada como a de um autômato, entoando o já cacête ao extremo script: “Bom dia, senhora. Sou o fulano de tal do Banco tal, e quero comunicar que a senhora foi selecionada para uma oferta especial devido ao seu excelente relacionamento com...”

Não existe coisa mais chata do que dezenas de e-mais diários anunciando viagras, danças do hipopótamo, produtos estrangeiros; e-mails absurdos em inglês, em japonês, em chinês, ou em português mesmo, querendo nos empurrar produtos, cursos, palestras e derivados os quais – mesmo! – se por algum deles me visse interessada iria à fonte, direto, escolher um da minha seleta preferência! E dez entre dez pessoas haverão de me dar razão quanto ao ponto principal desta questão:
telemarketing e spam enchem! Não convencem! São uma forma burra de se querer impor a quem assim é abordado o seu produto ou metas de vendas, porque, antes e acima de qualquer reação, em talvez que 99% irritam, ao invés de seduzir!...

E, asseguro-lhes, compro na internet como uma das opções principais, sempre, porque não me resta tempo sobrando para viver batendo perna em shoppings e comércio de rua. Mas certamente 100% das minhas compras anuais na internet se realizam segundo meus próprios interesses e buscas, em tempos de poderosas ferramentas de busca como o Google; e certamente nenhum - nenhum! - banco vai me convencer a obter mais cartões de créditos, pois admito, no máximo, o meu único, solitário, que venho administrando bem! Certamente - e após já ter recebido dois telefonemas com tentativa de simulação de seqüestros - não ajudarei a todas as supostas instituições que estranhamente descobrem meu telefone residencial e me ligam pedindo auxílio financeiro para um sem contar de situações envolvendo pessoas carentes! - de vez que já elegi meus alvos idôneos de auxílio neste sentido, após acurada análise da realidade de suas necessidades, e, mais do que tudo, depois de ter passado pelo horrível choque de ver denunciada num escândalo de fraude, no jornalismo televisivo, uma destas ongs a que ajudava na mais completa credibilidade da honestidade da instituição!...

Ligamos a tv. Se vimos anúncio em razão do qual nos mobilizamos à compra deste ou daquele serviço ou produto, é que existe a noção de que o ato de se ligar a tv implica em permissão tácita para que não apenas a programação pretendida, quanto os anúncios veiculados a intervalos, adentrem nosso recinto doméstico. Mas isso é coisa bem diferente de um estranho, à nossa revelia, apoderar-se de nosso e-mail, número de celular, ou de telefone doméstico ou mesmo profissional para impor-nos a lavagem cerebral intolerável para a qual são treinados a fim de se engrupir despóticamente a população.

Nenhuma estratégia de marketing, de consumo, ou seja lá sob qual pretexto estas práticas abomináveis são abordadas nos treinamentos de mercado, se justifica, em se lançando mão deste recurso impertinente quanto impróprio qual o de se invadir tão agressivamente o terreno da privacidade alheia com o discutível fim de se vender produtos, ou de se competir na área de consumo disso ou daquilo. E já é com atraso que se pede aos responsáveis por estas antes ferramentas odiosas de tortura que se convençam de que, sem nenhuma margem a dúvidas, o que angariam antes de qualquer coisa é antipatia e repulsa pela instituição ou pelo objeto de venda que pretendem divulgar - exatamente o contrário, penso, do que se pretende nas finalidades de lucro e de comércio, bem como do que se obtém, de forma inteligente e incomparavelmente mais bem sucedida, exercendo-se as mesmas atividades sob o apanágio indelével do respeito ao próximo e pelo sagrado território da privacidade alheia!

Isto é indicativo claro de princípios de civilidade e de cidadania - em contrário dos quais nenhum sistema econômico fundado no capitalismo selvagem que grassa hoje em dia, bem como pretextos da tão propalada quanto enganadora competitividade, depõe com sucesso, sem contar a médio ou a longo prazo com prejuízos sérios, bem como com a contundente derrocada de seus propósitos!


Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 18/03/2008
Alterado em 18/03/2008
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