Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


COLOCANDO A MÃO NO FOGO

Determinadas notícias evocam reflexões, ao passo que também perplexidade. Quando o ser humano se libertará de fórmulas furadas, falidas, que decisivamente já deram mostras de ineficiência na melhoria da qualidade de vida do ser humano?

Leio no jornal há pouco que de nada adiantou a Lei Seca, porque já os vendedores ambulantes a ignoram solenemente e prosseguem vendendo bebida alcóolica nas estradas para quem quiser comprar. Claro, caríssimo leitor! Venderão sempre! E querem saber o por quê? A resposta é simples, e não requer nenhum brilhantismo intelectual: porque há gente à beça que compra! E compra à rodo! Para a churrascada de carnaval, porque tem vício, ou porque debocha da tal Lei, como sempre outorgada sem a devida fiscalização maciça que lhe assegure o cumprimento... Ou porque gosta de colocar a mão no fogo! Assim como acontecerá, certamente, com as novas medidas das Leis de trânsito para os limites de velocidades, multas e semelhantes!

O ser humano parece dotado de uma tendência mórbida para reincidir insolitamente no mesmo tipo de experiência mal sucedida - e isto está intimamente relacionado às tão propaladas Lei da Atração, do Carma, do Retorno, como queiram rotulá-las...mas principalmente com o livre arbítrio: a ferramenta mais poderosa de que dispomos para a nossa evolução, mas também a mais traiçoeira. Justo por causa desta tendência do ser humano de se viciar, de se nutrir no cultivo de muitas atitudes atestadamente nocivas ao seu próprio bem estar - a despeito de todas as conseqüências adversas.

Assim, se viciam em meter a mão no fogo, nada obstante a queimadura tormentosa e certa. Correm feitos loucos nas estradas apesar de todo o assustador índice de acidentes a cada feriado, elevando todo ano a triste estatística das mortes por acidentes de trânsito, invariavelmente havidas, em sua maior porcentagem, pela imprudência do motorista! Caem dentro da bebida alcóolica nestes mesmos feriados, e dentre eles o do Carnaval - o mais susceptível gerador de excessos devido ao clima de desregramentos e de euforia descontrolada a que se entregam os foliões durante os quatro dias de festividades. E, via círculo vicioso, tome coma alcóolico, atendimento em hospitais, brigas, mais acidentes nas ruas e estradas devido ao índice elevado da taxa de álcool no sangue... e outras conseqüências inimagináveis e nefastas.

Assim também com o uso da camisinha como recurso indispensável à preservação da saúde, que continua solenemente ignorada por grande fatia de jovens inconseqüentes - já que não há que se alegar aqui inconsciência ou ignorância, devido ao massacre das campanhas incansaveis veiculadas pela mídia acessada por todos hoje em dia; e assim também - ainda! - com o uso renitente do cigarro como fator de status para algumas mentes resistentes na assimilação de valores tão nocivos quanto já caducos e ultrapassados...

E também, finalmente, relativamente à noção desoladora da vida única - a maior responsável, certamente, por toda esta distorção sem sentido em pensamentos e atitudes! Pois já que a vida vale o equivalente ao curto período de sessenta a oitenta anos, num mundo cheio de desigualdades onde quem leva a melhor (no quesito exclusivo material!) é o bem nascido financeiramente, ou o mais esperto na hora de amealhar dinheiro, ou o mais bonitinho, ou o mais sarado, ou o que usa a roupa de grife e freqüenta autódromos enquanto a massa esmagadora possuí como única válvula de escape o churrasquinho do carnaval regado à secular cervejinha... Se a isto a vida e os seus objetivos se resumem, e se o fato de se colocar a mão no fogo queima, mas proporciona um certo alento masoquista - na medida em que as conseqüências prejucidiais de tais excessos não pagam o ilusório prazer - por que cargas dágua alguém se incomodará com Leis Secas impostas por autoridades que, em não oferecendo no processo a devida fiscalização do seu cumprimento, parecem elas mesmas não estar nem aí para os seus resultados, aplicando-as a cada ano com esta ou aquela nova roupagem num mero ato mecânico, repetitivo, sem maiores repercussões para o bem estar da população?!

Lembro-me de que quando meu filho contava apenas uns dois anos, tinha a mania de, quando se irritava com seus brinquedos ou com qualquer outra coisa, meter a testa raivosamente no que quer que estivesse em torno: no sofá, na parede, nos próprios brinquedos... Era visível que, estranhamente, aquilo lhe proporcionava algum desafogo da irritação que momentaneamente sentia. Eu, preocupada, advertia, brigava, aplicava-lhe pequenas punições para que cessasse com o hábito prejudicial - em vão, para o meu desalento. Até um dia em que, colhendo-me de surpresa, em razão de alguma nova malcriação que promoveu enquanto brincava sozinho em seu quarto, meteu a testinha, raivoso, na quina do berço em que dormia - fez isto num segundo em que eu olhava para o lado; e, quando me voltei em razão do chorinho frouxo, em choque dei com ele, literalmente banhado de sangue da cabeça aos pés, por causa do ferimento na região vascularizada acima do supercílio.

Nunca mais repetiu o extravasamento irascível a que sempre se entregava ao sinal da menor contrariedade!

Caríssimos... é isso: enquanto as pessoas se abandonarem, displicentes, à este desnorteamento inconsciente imposto pela banalização crassa do verdadeiro sentido da vida humana, pode se aplicar quantas Leis Secas, Códigos de Trânsito e correlatos quiserem... Porque somente o amadurecimento do espírito em conjunto com o quantum das vivências adversas conseguirão, algum dia, convencer as têmperas mais empedernidas de que a fugaz catarse oferecida por um prazer questionável qual o de se beber até as comportas para depois amargar não sei quantas horas de enxaqueca, de náuseas e de horror orgânico não paga a plenitude proporcionada pela convicção de que, tendo em conta a eternidade vindoura, dentre os prazeres oferecidos pela vida o melhor deles, sem engano e sem concorrente digno, é a própria vida - saudavelmente vivida, apreciada e aproveitada!...

Mas com sobriedade, elegância, responsabilidade!

Abraços a todos!
Carpe Diem!

Lucilla

Escritora, oradora e colunista espírita

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 02/02/2008
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