Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

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ÚLTIMAS REFLEXÕES SOBRE OS MANÉS

Desde criança lembro de ter sido mané. Assumida, embora então um tanto inconsciente do personagem, mas sim.

 

Eu era aquela criança que acreditou em Papai Noel quase até os dez. Que, ainda que socializando com muitas outras crianças, gostava de brincar e jogar. E só!

 

Meus pais me educaram não necessariamente para não saber me defender, mas a questão é que, desde então, era de natureza pacifista.

 

A brincar, ou mostrar poder firmando a personalidade sentando a mão nos amiguinhos por qualquer pretexto idiota, eu preferia brincar.

 

Sempre!

 

Lembro até hoje: a valentona da rua me cercando no muro, doida para me enfiar a mão a troco de nada...

 

- Se defende!! - Provocava, diante da pequena torcida maquiavélica de algumas crianças que adoravam ver o circo pegar fogo.

 

- Não quero brigar com você....

 

Era a minha reiterada resposta, inteiramente honesta.

 

"Um Jedi só usa a Força para a defesa, nunca para agressão".... Hoje em dia, estranhamente, lembro desta fala do mestre Yoda, quando me recordo daqueles episódios distantes no tempo.

 

E eu não sabia que já era uma miniatura de mané... embora desconfiasse, de algum modo.

 

E prossegui vida afora sendo mané por aversão à tal competitividade, em qualquer situação que fosse, das havidas na adolescência até o presente momento... convicta, de algum modo, que apenas o respeito e a cooperação fazem um mundo saudável.

 

Mas, pensando e me orientando deste modo, em inúmeras situações de convivência profissional e em outras, quantos "perdeu, mané!" engoli a seco!

 

Mas sem perder a fé! Nunca!

 

Fé em que?!

 

A que conservo, ainda agora, de que, à esse "perdeu, mané!" cabe sempre a reflexão:

 

perdeu o quê?!

 

Sim!

 

Perdeu o quê, de tão precioso?!

 

A competição?!

 

A vaga, a posição, num pleito ou jogada, seja idônea ou de trapaça?!

 

Perdi o quê?!

 

A mim?!

 

A minha paz de consciência?!...

 

Crianças que batem nas outras, e outras que, em nome da natureza pacífica, apanham caladas, existem e existirão em todos os tempos... E adultos ultrajados, escravizados, vilipendiados, torturados, injustiçados no hediondo e infindo jogo de poder e de controle do mundo!

 

Não recordo agora se foi Martin Luther King ou Nelson Mandella - me corrijam - que liderou o movimento resistente de negros nos Estados Unidos que, não podendo viajar dignamente dentro dos coletivos urbanos frequentados por brancos, foram por ele convidados a seguir a pé, e não mais se utilizar daquele instrumento asqueroso de opressão social.

 

Isso é que é ser Mané digno! Fora do quadrado!

 

Que se lixem os coletivos! Temos pernas! Temos alternativas condizentes com a nossa melhor dignidade!

 

O sistema não nos define! Só se permitirmos!

 

Pois é dentro deste paradigma definitivo que, honradamente, me afirmo Mané!

 

Transparência, honestidade, pacifismo... colaboração, não competitividade!

 

Respeito, paz, diálogo, concórdia! Dignidade e integridade!

 

Que se lixem lutas e lutadores pelo poder polarizador que divide para controlar, para dominar, desarmonizar, deteriorar completamente a qualidade da vida humana!

 

Nada disso define o que fui, sou ou serei!

 

Eu sou, orgulhosamente, Mané!

 

E se isso significa perder nos assaltos ou nos abjetos jogos de poder deste mundo, aceito, prazerosamente, os cumprimentos!

 

E é assim que ganhei!

 

Invicta!

 

Mané!

 

🤡

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 21/11/2022
Alterado em 21/11/2022
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