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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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300 DE ESPARTA

Não sou especialista em cultura grega, menos ainda na sua história. Mas  apaixonada pelo assunto. O que sei orbita a média do que todos sabem: uma terra que nos legou impagável herança cultural nas mais variadas vertentes: artística, filosófica, científica, religiosa...

Mas não conheço muita coisa, por exemplo, sobre a história de Esparta. Já tinha ouvido e usado nos meus escritos algumas vezes expressões peculiares herdadas dos, pelo visto, hábitos sóbrios dos espartanos: ambiente espartano, por exemplo...significa ambiente decorado ou edificado de modo austero, sem rendas, sem adornos, sem salamaleques.

Mas sobre hábitos espartanos, nem de longe; sobre a formação guerreira espartana, menos ainda! Foi por isso, provavelmente, que deixei cair o queixo de pasmo ao levar meu filho para assistir ao tal 300 de Esparta, lançado no circuito cinematográfico neste fim de semana.

Por razões tanto pessoais quanto espirituais, e sendo por isso amante da antigüidade romana, amei de paixão o filme Gladiador, exibido há sete anos. A meu ver, foi o ícone dos épicos - principalmente devido a ser o personagem principal o protótipo da virtude viril: o homem violento da época da barbárie, que, entretanto, tempera a brutalidade de um tempo basicamente destituído de princípios morais com aquela coisa da virtude romana, e da dignidade do guerreiro, antes de tudo, devotado à Roma, aos seus ancestrais, à família, esposa e filhos...

300 de Esparta se assemelha a Gladiador somente neste aspecto - somente neste! O Rei Leônidas é de uma dignidade a toda prova, e leal de corpo e alma à liberdade de seu reino, e á sua família. Ah! E no detalhe do Gerald Butler, caracterizado daquele jeito, como o rei Espartano Leônidas, corresponder, mais ou menos, a um general Maximus (herói de Gladiador, interpretado por Russell Crowe) da época das cavernas...

Porque - valha-me Marte!! - nunca vi tanta demonstração crua de força bruta, de violência, e de barbárie! Nunca vi tanta cabeça sendo decepada; tanto sangue esguichando para tudo quanto é lado, tantas pernas e braços voando, a pretexto de se ilustrar devidamente o tanto que os guerreiros espartanos podiam chegar em nome da honra, e da manutenção da liberdade contra a ameaça dos exércitos do cruel rei Xerxes, personagem interpretado pelo Rodrigo Santoro...

Aliás, o reino do Xerxes é um episódio a parte. Rodrigo Santoro faz valer a sua fama internacional - dá orgulho ver a sua interpretação num filme assim, estrangeiro; numa superprodução épica em que tudo é estranho ao habitat ao qual está acostumado: língua, diretores, produção...o Rodrigo certamente é muito versátil, para ter vencido lá fora, atingindo toda esta notoriedade. É merecido! Mais do que merecido, e, dada a importância subida do seu personagem na história - de resto o vilão, e que vilão! - ele faz jus ao peso da responsabilidade de viver aquele Xerxes...

Porque vamos combinar...se eu fosse o Rodrigo, ao deixar este trabalho concluído, iria direto me benzer nos capuchinhos; tomar banho de sal grosso; de arruda e de guiné...para, por via das dúvidas, evitar a repetição da história havida com um sem número de atores que já relataram a forma dramática como as suas vidas andaram para trás depois de viverem, no cinema ou na tv, determinadas personagens portadoras de energias tétricas! Afirmo isso porque sempre considerei o ator uma espécie de médium, que absorve como uma esponja a aura dos personagens que vivencia - e o reino do tal Xerxes é de transformar o Inferno de Dante na congregação dos arcanjos do paraíso: violência; crueldade; pornografia; despotismo; monstros - os próprios guerreiros do seu exército imbatível, batizado de Immortals (imortais, já que Xerxes se julgava um deus), eram caricaturas de monstros, no seu modo de se vestir e de lutar!...

Fala sério!...

É um filme para os fortes de estômago, e para quem não se choca com a forma mais atroz de exposição de barbárie e de violência...mas em tempos em que crianças são despedaçadas por bandidos, de resto sob atalhos de salvaguarda da proteção das "leis", talvez que quem o veja nem se choque tanto...

Conclusões práticas do espetáculo? O colorido é magnífico - realçando o vermelho das capas de guerra espartanas sobre tons pastéis o tempo todo, jogando com o brilho das paisagens, guardamos a impressão de que cada tomada é uma obra de arte viva - sombria, porém fascinante! E os 300 espartanos foram, de fato, insuperáveis, até aos dias de hoje, no quesito coragem e invencibilidade - mais um legado da Grécia às gerações dos dias atuais, digno de nota!

E um post-scriptum somente às mulheres - permitindo-me a veleidade da menção: para quem gosta de corpos sarados, o tal Gerald Butler é imperdível! Um problema sério, conseguir arredar dele a visão para o todo do filme! E, certamente, é ele a única e grande razão, além do nosso Rodrigo Santoro, para que uma história que é pura carnificina atraia tantas mulheres às salas de cinema!

Abraços!
Viva Esparta!

Lucilla

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 01/04/2007
Alterado em 21/06/2007
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