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"Estar no mundo sem ser do mundo"

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A PRIMEIRA FLOR DE ALAMANDA

Alamanda é uma planta generosa, que pega com facilidade em qualquer lugar onde haja sol e nos presenteia, invariavelmente, com uma chuva de flores amarelas durante o ano todo; por esta razão mesma costuma ser uma das favoritas de quem se dedica ao cultivo de jardins confinados nas varandas dos apartamentos das grandes cidades, ou então são utilizadas em touceiras, que se alastram em docéis sobre as varandas ou terraços das casas.

Eu não fugi à regra. Desde que dispus do meu próprio espaço para um jardim em miniatura, comecei a sonhar com o pé de alamanda - que acabei conseguindo, afinal, porque, embora a facilidade de encontrá-la pra tudo quanto é lado por aí, enfeitando os bairros do Rio de Janeiro, foi um custo arranjar quem me vendesse um pé. E também nunca levei jeito para esta coisa de passar pela calçada e arrancar, como quem não quer nada, e sem que ninguém nos veja, um galhinho da alamanda da casa alheia, muitas vezes transbordante das grades para as calçadas - e depois sair por aí, assobiando uma musiquinha!

Bem, conseguido o meu belo pé, que já veio com um vaso adequado e decorado, estou há dias cuidando dele meticulosamente, como de um bebê recém nascido. É um pezinho já bastante desenvolvido, e adivinhei, num dos ramos, flores em tempo curto. Assim, seguindo as orientações do florista, coloquei num ponto da varanda cheio de sol da manhã; molho duas vezes por semana; às vezes três. E todo dia, chego do serviço e, uma vez desobrigada, vou até lá e fico namorando a plantinha durante algum tempo, exercitando o belo hábito de conversar com ela (vi num documentário que as plantas são sensíveis ao carinho. São! Já comprovei!)

Pois hoje, passadas umas duas semanas, me levanto cedo e, nesta bela manhã ensolarada, dou com o meu primeiro bebê! Minha primeira flor de alamanda sorrindo para mim, logo ali, próxima à porta da sala, onde pus o vaso. Parecia estar me esperando, ansiosa! Bela, fresca, amarelinha...altiva! Feliz!...

Fui até o pé. Cheirei. É flor sem cheiro. Não importa! Linda! Altiva! De fato, sorri do alto do galho cultivado com tanta paciência há quase quinze dias! Sorrio para o pé de alamanda; beijo a flor, faço um carinho. Agradeço...depois reguei o pé. Tenho certeza de que a deixarei feliz daqui a pouco, quando sair para o serviço; e todo o meu jardim está, certamente, mais belo, mais vivo, mais enriquecido!

Penso que a vida guarda grande semelhança com um jardim. Por vezes não sabemos muito bem como cuidar de uma planta; a situamos em local inadequado, com muito calor ou muita sombra; não acertamos a mão do cultivo, molhamos de mais ou de menos! E a plantinha não vinga...É preciso sensibilidade para "sentir" o que se deve fazer em favor da sua sobrevivência, para que ela, alegre e à vontade, presenteie a vida com este regalo para os olhos que são as flores - estas obras primas de Deus! E, na vida, ocorre o mesmo; passamos os dias sonhando coisas para nós mesmos e para o mundo, mas não raro, sem saber bem o que envidar para que floresçam nos nossos dias. N'outras vezes, sonhamos e entramos na sintonia certa: mobilizamos a ação correta, e nossos objetivos são alcançados!

Sonhamos, todos, um mundo melhor. Desde que estejamos nos empenhando e fazendo a nossa parte, n'algum momento haveremos de acertar a mão, em conjunto - mas, para isto, o esforço da parte é imprescindível!

N'algum momento sorriremos, porque brotará a primeira flor de alamanda do cultivo dos nossos melhores sonhos de mais paz, mais amor, mais justiça para este nosso mundo e, mais especificamente, para o nosso país!

O meu carinho a todos.

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 06/03/2007
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