Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


 

A SUBJETIVIDADE DE UM MÉDIUM

Ainda agora estava sentada, em meu quarto, com as janelas abertas de par em par dando para uma árvore linda que existe na calçada, bem em frente. Tem folhas em forma de coração e, nesta época do ano, dá flores grandes, amareladas, e perfumadas.

Não sei qual a espécie desta árvore, apesar de já ter pesquisado. Mas o fato é que se define em autêntica terapia o me deter na sua contemplação de tempos em tempos - enquanto me perco em pensamentos e reflexões, ouvindo o canto dos pássaros delicados que se aninham nos seus ramos frondosos.

Nada embora em todos os dias sendo acordada ao som desta bela sinfonia, não desfruto desta benção como devido, e com a devida frequência. Parece incrível, mas não acontece. Porque a correria do dia-a-dia, o se levantar já com a mente tomada por preocupações de toda ordem, a sobrecarga de ocupações e divagações sobre uma multiplicidade de situações cotidianas me impedem.

A verdade, porém, é que foi bem neste estado esporádico, mas perfeito e apaziguado de alma, que me detive há pouco, depois de receber uma mensagem lindíssima e comovente do autor de meu próximo livro psicografado.

Ele fora um músico. E estes instantes abençoados de plenitude espiritual acontecem, preferencialmente, durante as ocasiões em que a paz ambiente é presenteada por tal conjugação benvinda de fatores favoráveis: silêncio, cenário, sons delicados, tranquilidade íntima.

Eis, portanto, a razão pela qual uma obra literária espírita, como uma gestação, demanda ausência de pressa, e, por vezes, o decorrer de todo um ano, ou mais, para vir à luz de forma apropriada. Porque o trabalho mediúnico requer circunstâncias únicas, das quais outras modalidades de produção literária prescindem, demandando apenas a inspiração proveniente do próprio autor.

O escritor de livros psicografados, contudo, trabalha sempre em parceria. Somos, antes, e como bem definia o nosso saudoso Chico Xavier, o lápis. O instrumento de manifestação do verdadeiro autor das obras. Assim, existem, em decorrência, uma miríade insuspeitada de elementos concorrentes para a realização destes projetos - dentre os quais a subjetividade do médium, mais rica do que possa parecer à primeira vista, como fator preponderante.

O médium necessita, nestes casos, e antes de tudo, de uma simbiose de energias adequada com o espírito comunicante. Há que existir uma quota suficiente de empatia, de recursos íntimos, bem como linguísticos e, por vezes, culturais, que favoreçam o desenvolvimento bem sucedido do trabalho. Em muitas das vezes, no caso do médium psicógrafo que produz obras literárias regulares, como no trabalho com romances mediúnicos, os espíritos autores e participantes da equipe que nos assessoram no plano invisível se tratam de velhos conhecidos; de antigos familiares: pais, mães, irmãos, amigos ou cônjuges de múltiplas jornadas na materialidade, com quem guardamos elevado nível de afinidades, bem como de afetividade ou de comunhão amorosa autêntica.

Por conseguinte, é comum que o universo emocional do canal  reencarnado seja rico em nuances e fenômenos perceptíveis, em primeiro lugar, somente pelo próprio indivíduo em questão.

Baseando-se nas próprias vivências, a exemplo, e por ocasião do recebimento das obras de meu mentor do invisível, Caio Fábio Quinto, com quem guardo vínculos milenares em vidas vividas na antiguidade romana, detive-me por largo período com a sensibilidade aflorada para a atração sempre exercida sobre a minha individualidade pelos filmes e livros a respeito do assunto, que passei a acessar, inclusive para fins de pesquisa útil à confirmação de contextos narrados, de maneira quase obsessiva.

Se o visitante, como no caso do nosso próximo livro a ser lançado, foi um músico, com a sensibilidade exaltada para esta vertente artística, por pura empatia nos vemos inclinados aos temas associados, como me aconteceu durante todo este mês, sem poder resistir ao impulso de ouvir a minha coleção de clássicos ligeiros, bem como, até mesmo, à tentação insólita de adquirir sem mais nem menos um violino - embora seja instrumento a respeito do qual nutro grande admiração - para tomar aulas de música, já que possuo um histórico antigo de algum conhecimento musical com meu velho piano, violão e flauta. 

Se o espírito autor padeceu algum sofrimento rude, ou reveses de saúde, há que se policiar, no médium, muitas vezes, a tendência em assumir e somatizar sintomas idênticos, mas de origem inexistente, que acontecem somente em função da sintonia por vezes fulminante entre a individualidade do visitante amigo, ou amado de outras épocas, que comparece para contar, através da nossa intermediação, a sua história, com toda a riqueza prodigiosa de nuances, emoções, sensações e sentimentos que, quando invigilantes, acabamos assumindo para o nosso próprio Universo íntimo.

É por esta razão que não se deve pensar ser, a subjetividade e o mundo particularizado de um médium, um território solitário, no qual ele estagia sozinho em meio a meras impressões, ou ainda de forma árida, apenas funcionando como um canal destituído de sensações sem significação digna, para depois retornar ao seu cotidiano povoado das pessoas e dos supostos acontecimentos tidos erroneamente como os únicos reais.

O médium, ao invés, se relaciona e se socializa de forma quase eletrizante, de vez que, além de com os muitos com quem comunga a atual jornada na matéria, também, e principalmente, interage com energias individuais de encarnados e desencarnados, e com a equipe na maior parte das vezes numerosa, constituída de amigos, familiares e afetos de um passado mais ou menos remoto, que o amparam e assessoram das esferas dimensionais adjacentes à Terra.

E assim, experimenta, constante e insuspeitadamente, vivências reais e muito palpáveis que o definem, mais que como o reencarnante terreno de convivência restrita com quem o acompanha no aprendizado rápido de cada reencarnação, também e preferencialmente como o cidadão cósmico, que traz ao seu redor e por detrás das cortinas da invisibilidade extenso cortejo de seres que, com ele, enriquecem e criam a teia infinita da sinfonia da Vida.
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 08/12/2011
Alterado em 08/12/2011
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