Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


A HORA DO ESPANTO

Confesso que, olhando assim pra cara dele, conforme me aconteceu, não é o pior e mais feio bicho; o pior é a barata! Em todos os sentidos: aquelas perninhas cheias de espetos, o fedor, e o pior - aquelas horrendas asas potentes, que as fazem...voar!!! E voar pra cima da gente!!!

Mas dar de cara com um casal de ratazanas na sua cozinha como aconteceu comigo anteontem é o fim! E ratazanas é pouco: mais pareciam preás, do comprimento da ponta da calda até a ponta do nojento focinho! Valeu-me Deus, porque jamais imaginei ter que passar por tal operação de guerra!

Eu andava, de um ano pra cá, feliz da vida com a minha nova residência: ruazinha residencial, arborizada, florida, num prédio estilo clássico com apartamentinhos com varanda, onde arranjei um lindo jardinzinho com onze-horas, petúnias, roseiras...

Tudo limpinho desde o início; nada de baratas ou de qualquer outro ser ameaçador desta monta...até o momento em que se deu o inevitável...o inevitável pesadelo, conseqüência do problema que a rua, em si, está atravessando: a presença de ratos - horrendos ratos; ratazanas; famílias inteiras de roedores que, durante a noite, com a calmaria da rua com pouco movimento, passeiam tranqüilamente pelas calçadas, para o meu estupor! Um caso de saúde pública - mais ainda quando se transporta, de inopino, para dentro da nossa casa!

Eu seguia alegremente o dia de feriado aqui no Rio, dentro de casa, fazendo as minhas coisas; tarde calma e de temperatura agradável; minha filha pequena brincando com as suas bonecas no seu quarto...até que, em dada hora, toca o interfone...

Vou até a copa atender, distraída, ponho o fone no ouvido...e, de súbito, tendo a visão atraída por insólito movimento ao lado, a princípio não consigo emitir um som, estatelada...

Uma tétrica ratazana cinza do tamanho de uma capivara, em também se assustando de abrupto com a minha presença, começa a patinhar desesperadamente dentro da pia da minha bancada, tentando fugir...ao que eu, ao invés de dizer "alô" no fone que ainda segurava no ouvido, em estado de choque - desfechei um escandaloso e cinematográfico berro nos ouvidos de quem aguardava lá embaixo: no caso, e pra piorar, um casal desconhecido, que tocara no meu apartamento por engano!

Em seqüência - e para piorar ainda mais a caricata tragédia que se apoderava do meu dia - corri feito uma doida para a minha varanda de segundo andar, atarantada, à vontade, com short, camiseta e provavelmente com cara de quem tinha acabado de ver um fantasma! Olhei para o casal estarrecido lá embaixo, e, tonta, perguntei o que queriam.

- Aí mora a Ana? - a mulher perguntou timidamente, os olhos esbugalhados de quem via uma assombração.
- Não!! Não!!! Não sei quem é!!... - foi a resposta apavorada e patética. Depois corri feito doida de volta para dentro da casa, na certa acordando para o fato de que não poderia abandonar a cozinha ao poder maligno daquela coisa, que me surgira na frente qual assombração, por mais que estivesse desarvorada. E o casal lá ficou, apatetado...sem que eu saiba até agora como se arranjaram para localizar a pessoa que buscavam.

Cheguei, por minha vez, na porta da cozinha. A atrevida ratazana cinzenta, do tamanho de uma capivara, lá ainda me desafiava - agora sobre o fogão, apoiada sobre as patas traseiras, as dianteiras em riste; olhava-me fixamente, a boca ameaçadora meio entreaberta, a estranha expressão de que também estava se deparando com uma assombração...

Algo fugidiamente deve ter assomado à minha mente sobreexcitada e em choque, acerca do que já ouvira falar sobre ratazanas atacarem. Disso resultou a reação mais idiota, que possivelmente só surtiu efeito pelo elemento surpresa, pelo efeito do susto, talvez confirmando àquele nojento animal que eu deveria, de fato, ser uma espécie ameaçadora de assombração: - a agredi com outro berro - e desta vez, de caso pensado!

A ratazana atirou-se de sobre o fogão, sumindo-se, espavorida; eu, também espavorida, atirei-me para a sala, com minha filha, à esta altura, correndo comigo desatinada e aos gritos pela casa, sob o efeito lastimável do meu desespero.

Janelas da sala abertas, dando visão para os prédios vizinhos; plena tarde, luz do dia; e uma mulher doida correndo pela casa aos berros, de um para outro lado, com uma menina de seis anos atrás fazendo o mesmo. Imaginei, depois, o que pensaram eventuais vizinhos que depararam, do ângulo de visão das suas varandas nas cercanias, a cena indescritível...fora o casal que, da calçada, tocara meu interfone por engano!

Este inferno estendeu-se do meio da tarde até as duas horas da manhã; hora em que a minha estratégia de guerra - vassoura numa das mãos, panelas e panelas de água fervendo no chão, sob o fogão e debaixo da geladeira, e depois no ralo, por onde o primeiro, maior, e mais temível rato preto se escoou, após eu tentar fritá-lo dentro do fogão com o forno ligado no último - às duas horas da manhã esta estratégia desastrada afinal funcionou, espantando aquela última, cinzenta e mais ferrenha ameaça de quatro patas para o buraco no chão onde também se meteu, e que lacramos, eu e o meu filho, depois de uma última panela com água fervente lançada nas suas profundezas...

Revolta estomacal; não jantei, nem as crianças; depressão, pelo próprio inusitado da situação em si; nervosismo...perplexidade, indignação... Mobilizei o prédio inteiro, de segunda-feira pra cá, no sentido de se convocar a saúde pública a fim de dar solução no problema, no prédio e nas cercanias. E, de segunda-feira pra cá, somente hoje pude começar a repor os pés no chão e rever o acontecido com mais frieza...o que resultou na consciência da comicidade involuntária nas minhas atitudes naqueles instantes de autêntico pânico, durante uma situação nunca antes enfrentada!

Porque quando aquele último "preá"afinal se evadiu pelo buraco do ralo abaixo - comigo e com meu filho exaustos; com uma terça-feira de trabalho e de escola nos aguardando dali a poucas horas, em plena madrugada- foi como se eu ouvisse a gritaria histérica de todo um estádio de futebol lotado, berrando: "gooooooooooooooooooooooooolllllll!!!"...

Sim! - a sensação foi idêntica naquela minha vitória particular; logo eu, sofrendo desde a infância de uma fobia impertinente contra insetos, que me leva a acessos histéricos por causa de uma simples borboleta!?

Mas venci! Venci as duas ratazanas - do tamanho de uma capivara!! Um casal!! Vocês não voltarão, suas desgraçadas, a por as suas patas nojentas no mesmo chão onde as minhas crianças pisam!!...

Venci! E no sábado, a Insetisan aqui virá, para lhes dar o golpe de misericórdia!

A propósito deste acontecimento lembrei-me da crônica de uma colega do Recanto que, faz algum tempo, escreveu também sobre um episódio parecido, com o horror das baratas. E é, portanto, lembrando-me deste episódio, e do meu particular e horrendo caso, meus caros, que lhes afianço: mulher é sexo forte! Vencemos, sozinhas, baratas e ratazanas do tamanho de preás - e nem um pouco inofensivas, como sugere a imagem deste estranho bichinho da foto aí de cima, que se assim inofensivo está, é porque certamente já lhe acertaram uma devida e apropriada vassourada!

Com fobia e tudo!...

Venci duas ratazanas do tamanho de duas capivaras!!

"Vim, vi, e venci!" - já dizia Júlio César...

E digo eu!!...


Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 23/11/2006
Alterado em 28/02/2007
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