Zênith

"Estar no mundo sem ser do mundo"

Textos


AVATAR - A MENSAGEM DA IMORTALIDADE

Qual a mensagem que nos faltava, a nós, a humanidade de um mundo quase agonizante?

Imortalidade!.

Ontem publicava no site Somos Todos Um um artigo que fez referência à Fênix, ícone da imortalidade, dentre temas correlacionados, como os textos de Dan Brown e outros. E hoje, ao rever Avatar com meus filhos, inesperadamente deparei de novo com o enigmático símbolo, noutra expressão despercebida da primeira vez em que o assisti, no seu lançamento: nos animais alados banshee, protagonistas do ritual de passagem dos aspirantes a guerreiros dos Navi, e no Toruk - predaror dos ares de cor avermelhada, feroz, temido e respeitado, personagem legendário daquela civilização no mundo Pandora, somente cinco vezes submetido ao comando de algum dos seus guerreiros! Olhando, pois, fascinada para aquele Toruk majestoso, emergiu-me subitamente à percepção o insight ao qual aludi ontem - e, literalmente, vi!...

Eu vejo você!...

O mundo, em Avatar, é Pandora. Pandora - o termo mitológico que designa a mítica caixa na qual, uma vez aberta, veremos possivelmente o que não queremos ver. Ou talvez que, por outra, a exteriorização, a extensão do nosso universo íntimo. E neste mundo peculiar, de natureza exuberante e de transcendente encanto, os do clã Omaticaya se saúdam deste modo profundamente significativo: Eu vejo você! - no sentido de ver o outro por dentro; enxergá-lo, realmente; percebê-lo na riqueza maior de sua essência interna, na sua corrente venerável de Vida, conectada à de todo o restante daquele planeta por intermédio da rede vital poderosa de Ewya, a deusa suprema - com quem se comunicam através da Árvore das Almas.

Os Omaticaya, com quem Jake - o mariner terreno participante do grupo colonizador que ocupa paulatinamente Pandora atrás do valioso minério Unobtanium - trava contato primeiramente por intermédio da Navi Neytiri, consideram os humanos ameaçadores e infantis. De fato Neytiri, de início, repele Jake, e o acusa repetidamente de agir e ser como um bebê, por não conseguir ver! - o que, para o clã, é considerado como uma espécie de loucura. Várias vezes os Navi ironizam Jake, dizendo que até mesmo uma pedra seria mais capaz de ver do que ele!

E qual a doença principal de nossa humanidade, responsável por todo o repertório de insanidades no qual afundamos, ao que tudo indica, em processo de queda livre, e sem esperanças de retrocesso?

A incapacidade crônica de ver! A cegueira inexorável, que corrói, implacável, a alma humana - a cegueira para o valor da Vida; para a necessidade premente de se resgatar sua venerabilidade, em nós, tanto quanto em tudo em volta! Em todos os seres viventes!

No dia em que o último peixe morrer nos mares, o homem enfim entenderá que dinheiro não se come! - Greenpeace

E por verem, os Navi nos consideram insanos; por verem, valorizam tanto a vida nas minúsculas sementes da árvore sagrada - os mais puros espíritos, diz Neytiri - assim como nas feras noturnas que, no princípio da história, atacam e quase matam Jake em meio à noite deslumbrante de Pandora. Por verem, vivem imersos na consciência desperta desta inexpugnável rede vital, onde coexistem em simbiose todas as formas de Vida do Universo! A veneram, a vivenciam, a respeitam... no mais ínfimo quanto no maior ser, não importa! Neles, quanto nos Viajantes dos Céus, como eles denominam os humanos. E é justamente por isto - por pressentirem no visitante ameaçador, a despeito de tudo, a venerável corrente da imortalidade - que o acolhem, confiantes, para presenteá-lo com o aprendizado sobre o seu clã, e sobre a valiosa sabedoria de seu mundo!

- Vamos ver se assim você se livra da sua loucura! - adverte a mãe de Neytiri, Moat, a líder espiritual do clã, já que se vêem desencantados, receosos, desesperançados da convivência imposta pelos seus beligerantes visitantes com propósitos, aos seus entendimentos superiores, obscuros, quando lhe oferecem estradas, escolas de idioma humano, dentre outros ítens de cuja presença, absolutamente, prescindem no seu modus vivendi pleno, feliz!...

Jake comanda um Avatar - criaturas híbridas humanas-navi - por intermédio da transposição mental de si mesmo à criatura artificial criada para finalidades mercenárias em Pandora. Mais uma vez, o conceito definitivo de imortalidade - num contexto futurista, onde desloca-se o foco consciencial de si mesmo a uma criatura com genoma compatível, identifica-se, cristalina, a última fronteira do conhecimento imprescindível à nossa própria humanidade, ainda hoje imerso em descomunal emaranhado de polêmica inútil e resistência de grupos petrificados numa ortodoxia obtusa, tanto científica quanto religiosa, na medida em que o pensamento preso a dogmas de ambas estas asas humanas ainda não nos permite o respiradouro que enfim descerrará à nossa humanidade adormecida em interesses tacanhos o segredo final! A nossa herança maior! O vôo da Fênix!

E no final de tudo, em sendo vencidas pelos clãs daquele mundo fabuloso as brutais forças involuídas de nossa pretensa civilização, cujos avanços tecnológicos se pautam, também e ainda naquele contexto, em total descompasso para com o necessário avanço da outra asa em vôo - a da Ética Cósmica, assentada na veneração incondicional da Vida! - Jake vê, ouve...! E opta pela decisão suprema - a da transposição definitiva de sua consciência para o Avatar criado, em princípio, visando finalidades diametralmente opostas às indivualmente por ele alcançadas durante as suas vivências junto aos encantadores Navi!

Morre o mariner; revive Jake no novo Navi, amorosamente acolhido pelos Omaticaya, e pelo coração da carismática Neytiri!

Algo que já conhecemos, aqui e agora, sob a designação de reencarnação - mero passo a mais, naturalíssimo, vivenciado por todos nós em incontáveis vezes durante a nossa longa trajetória através da Eternidade, aqui, como noutros mundos!

Imortalidade! Veneração da Vida! Respeito por todos os seres viventes! Harmonia! Amor e preservação do mundo natural à nossa volta, com toda a miríade infinita de criaturas que compõe a maior e mais inestimável riqueza das luminosas mansões universais!

Saio do cinema. Ressurecta. O foco de consciência retorna para este meu momentâneo Avatar terrestre.

Chegando em casa, deparo no jornal com a espantosa notícia - acompanhada de devida foto do termômetro de rua - de que a temperatura, hoje, no Rio de Janeiro, de modo inédito e assustador atingiu os 48 graus; e a chamada sensação térmica, os 50!

Que um dia a nossa reverência maior ao mundo onde ora vivemos seja bem esta:

Eu vejo você!...

No espírito de Ewya; de Pandora!

Link para notícia mencionada acima:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2010/01/11/calor+intenso+no+rio+deve+persistir+ate+quarta+feira+alerta+meteorologista+9269037.html

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 12/01/2010
Alterado em 12/01/2010
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