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TRAGÉDIA ANUNCIADA

(A Rogerio Amorim, in memoriam)

Acabo de retornar de uma das referências paradisíacas brasileiras. Maceió. Terra abençoada por Deus; terra de gente hospitaleira, de belezas inigualáveis, inesquecíveis. Terra do Velho Chico, nosso imponente, encantador Rio São Francisco. Terra de Maragogi e das Dunas do Marapé...terra da Praia do Francês...

Ah, que pena! Inesquecível praia do Francês! Para o grupo de excursão que me acompanhava, contudo, o que para muitos representa boas e belas recordações, para o nosso caso em particular ficou marcado pelas piores lembranças possíveis!

Presenciamos na Praia do Francês uma tragédia indescritível. Funesta. Profundamente lastimável. A morte de um jovem, recém casado, em lua-de-mel: Rogerio Amorim. Um paulista de apenas vinte e dois anos. Morreu, arrastado por uma corrente de entorno para o fundo do mar, quando tentava salvar a esposa de afogamento. O corpo só foi encontrado um tempo enorme depois por um pescador, sobre um banco de areia em região afastada do ponto de apoio onde nosso grupo turístico se encontrava. Coisa estúpida, sem cabimento, desnecessária. E por quê?!...

A impressão que nos dominou a todos foi a mesma. Comentários à solta, unânimes, permearam os participantes daquela excursão durante toda o resto da semana após o sinistro acontecimento. Maceió e suas belíssimas praias paradisíacas espalhadas ao longo de todo o litoral alagoano possuem um bom receptivo turístico e uma infra-estrutura elogiável em seus hotéis... mas é um desastre no ítem segurança!

Na Praia do Francês, de mar reconhecidamente perigoso ao banho em decorrência do que os alagoanos denominam tombo - num mar raso, uma súbita depressão, um tipo de vala abrupta no raso aparente do mar - a estatística de morte por afogamentos é conhecida de muitos. O receptivo da CVC alertou o grupo a respeito do perigo; e um próprio residente local chegou a comentar que só recentemente foi a terceira ocorrência de morte por afogamento de que teve conhecimento. E numa localidade com tais características, tudo que se observa em termos de infraestrutura de segurança é uma torre com alguns salva-vidas, à distância da linha de praia.

Nenhum barco. Helicóptero. Efetivo nas areias ao longo do litoral. Nada! Na praia de Maragogi, por exemplo, não me recordo de ter visto um único salva-vidas em toda a extensão da praia onde nos achávamos. E - como asseverou em entrevista à rede Gazeta Alagoana uma autoridade local do Corpo de Bombeiros - tudo que se fornece aos salva-vidas para o exercício especialíssimo de sua função são pés-de-pato! "Não somos patos!"... O homem retrucava diante das câmeras, revoltado - "A rede hoteleira não investe na segurança das praias! O rapaz acabou falecendo porque trabalhamos com falta de recursos!..."

E como as autoridades locais competentes não investem como se deve neste setor prioritário, importantíssimo num estado onde o turismo cresce em velocidade galopante, a vida de um jovem paulista que resolveu prestigiar as praias alagoanas em lua-de-mel com a esposa é desperdiçada assim, bestamente - recorrendo-se a um termo informal mas preciso, para se definir um gênero de morte tão brutal e desnecessária!

No noticiário virtual choveram notícias, notas maiores ou menores sobre o ocorrido. Numa delas li algo acerca das dificuldades com o investimento na segurança turística em Alagoas devido à nossa velha e conhecida praga nacional endêmica, de corrupção e desvio de verbas que deveriam ser destinadas ao bem estar das populações em todo o território nacional.

Agora, de volta ao Rio, enquanto me recordo, metade melancólica, metade ainda fascinada com as maravilhas alagoanas, o momento em que nas areias brilhantes da Praia do Francês desenhei com os pés um coração, progressivamente lavado pelas ondas, em intenção dessa jovem viúva tão precocemente enlutada, as suas famílias neste momento, e com toda a razão, padecem sofrimento indescritível. Provavelmente amaldiçoando Alagoas, suas praias, a hora da decisão nefasta desta viagem e tudo o que de longe lhes possa evocar sequer esta lembrança!

Alagoas, com o seu povo bom, hospitaleiro, e suas incomparáveis belezas naturais, não merece isso. Os turistas, que nas altas temporadas a visitam às levas incontáveis, fascinados pelas suas maravilhas paradisíacas, também não. E, em se tratando das vidas preciosas não apenas de turistas, mas também do povo alagoano, seria bom que as autoridades locais pensassem em soluções com inteligência. Afinal, a longo prazo, um tal conjuntura lamentável numa das principais fontes de divisas daquele estado fatalmente acarretará prejuízos na área turística de conseqüências difíceis de se reverter na posteridade.

No mínimo, injusto para com Alagoas - terra de tanto encanto e belezas, de tanta arte e de tantas riquezas naturais! 

 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 28/07/2008
Alterado em 15/08/2008
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